PETRONÍLIA-PATA-O ANJO DA GUARDA DO MEU FILHO

-PETRONILIA DE DEUS DOURADO-PATA-

O ANJO DA GUARDA DO MEU FILHO

Poucas pessoas me marcaram na vida como esta mulher. Pobre, analfabeta, com problemas sérios de saúde e mesmo assim, com senso de responsabilidade e, até demonstrando muita vitalidade, tirando forças de onde não tinha, soube cuidar do meu filho, enquanto eu e sua mãe trabalhávamos. Participou da infância do meu filho como se fosse um membro da família. Chamava Matheus de "MEU FIÍM". Não conseguia ficar um dia sem ve-lo. Quando a gente estava em casa, na Rua Juracy(ela morava em frente), não podia entrar ninguém, pra ela não ir ver quem era, temendo que algum mal acontecesse com meu filho. Nunca presenciei tanto amor e cuidado por um filho que não era dela.

Quando a gente viajava pra Ibititá no final de semana, pra visitar os avós de Matheus, dona Sindú me contava que ela ficava observando se tinha alguem em nossa casa, pra ver se Matheus ja tinha chegado. Toda vez que algum ônibus chegava de Irecê, ela ficava em pé na calçada, olhando, com a mão na testa, pois enxergava pouco, pra ver se Matheus tinha chegado. À esta velha querida, que muitos a ignorava, por ser preta e pobre, eu e Maurízia devemos muito. Meu filho também. Era conhecida como Pata, mas seu nome era Petronilia de Deus Dourado. Esta alma bondosa so podia ser de Deus mesmo, por isso faz jus o seu sobrenome.

Nós, graças a Deus cuidamos um pouco dela, Maurízia principalmente, dedicava todo carinho e toda atenção à esta preta querida. O nosso almoço era repartido com ela, menos o jantar, à noite ela so se alimentava de pão e leite. Como na época trabalhavamos no Funrural, recebíamos muitos produtos da roça e Maurízia fazia questão de dividir tudo que recebia com esta preta querida. Ela era tão ligada à Matheus, que, em algum momento, quando ele foi matriculado na creche, ela subia a rua, mesmo com suas pernas frágeis, pra ir à creche, mesmo distante, pra ver se as professoras estavam cuidando bem de Matheus.

Ficava no portão da creche observando, e quando um coleguinha brigava com Matheus, ela voltava brava pra nossa casa, e nervosa, pedia insistentemente à Maurízia pra tirar ele da creche porque os colegas estavam judiando dele. Maurízia caía na gargalhada. Pata era muito doente. Tinha problemas respiratórios, devido à tantas madrugadas trabalhando em outras residências no passado, pegando leite em currais, enfrentando o frio, a lama e a chuva e, depois sem nenhuma recompensa, foi jogada num beco de rua, visinha à casa de D. Benvinda. Morava num barraco velho, e, graças a ajuda de Maurízia e outros visinhos, ainda viveu um longo tempo, dormindo num confortável colchão e tendo cuidados médicos constantemente.

Anos depois ela ficou muito doente. Pouco tempo depois a sua cunhada, que morava em Vila Saudável veio buscá-la. Num domingo à tarde, eu, Maurízia, Matheus e meus sogros, subimos à serra, pra ver como ela estava. Encontramos mais frágil e debilitada. Ainda conseguiu dar um abraço em Matheus, e naquele momento sentir que ela tinha o mesmo amor por ele, pois vi seus olhos miúdos cheios de lágrimas. Ela ficou muito emocionada ao rever Matheus. E ainda disse baixinho: TU VEIO ME VER MEU FIÍM, FOI? Pouco tempo depois, recebemos a notícia que ela tinha falecido. Sentimos e choramos como se tivéssemos perdido um membro da nossa família. A dor foi muito grande. E hoje, tantos anos depois, a saudade ainda é maior. Peço a Deus que ilumine meu anjo bom, onde ele estiver. Sei que meu filho, hoje crescido, tem muita gratidão por ela também. Gostaria que ele me ouvisse, pra ouvir o meu obrigado, a minha gratidão por tudo que ela fez por nós. O nosso obrigado por ter nos ajudado a criar nosso filho. QUERIDA PATA: Guarde contigo nossa gratidão e nossa saudade eterna.

Eduardo Mendonça
Enviado por Eduardo Mendonça em 21/09/2011
Código do texto: T3231650