Pai
(O Som) mais emocionante (da infância)
(Era o barulho da tua chave na porta...)
Ruído que me avisava da sua chegada em casa...
Sempre sentia o teu cheiro no teu travesseiro,
Amava as tuas coisas, tuas seleções,
Tua cadeira em um canto da cozinha...
Amava a casinha de todas as tuas ferramentas,
Era um local magnífico para mim,
Um universo que eu explorava com curiosidade,
Tuas cordas, tuas chaves de fenda,
Parafusos, latas, arames,
Tuas antiguidades, o velho rebolo,
A velha máquina de cortar grama...
Aprendi com você o processo da eletricidade,
Solda, fios, pilhas, lampadinhas...
Eu tenho até hoje aquele arco
Que um índio fez para você com o seu nome...
Você foi o meu anjo da natureza...
Mostrou-me os peixes, os riachos no meio da mata,
A voz do vento, a serração, a geada,
Os bichos rasteiros, cobras, lagartixas, sapos...
Mostrou-me a toca do João de Barro,
As laranjeiras floridas, as plantas crescendo...
Quando mais velho, eu também te mostrei uma planta,
Uma das especiais que faltava conhecer,
Você a temia, mas sei que gostou muito dela...
Às vezes, quando chovia, você dizia um ditado,
Até hoje nenhum de nós conseguiu lembrar qual o era,
Só sei que a Chuva passou a ter um familiar significado para mim...
Lembra quando caiu aquele temporal
E você guardou aquelas gigantes pedras de gelo para todos verem?
Lembro-me de você enxertando
Os limoeiros, as laranjeiras em nosso quintal...
Falava-me muito sobre as árvores...
Eu sei o que elas simbolizam para você,
Eu acho que tenho o mesmo sentimento por elas...
Lembra da muda de araçá que plantamos juntos?
Hoje ela é uma imensa árvore...
Lembra também quando segurei o ouriço pelo rabo
Naquela floresta?
Pensa que eu não percebi o quanto ficou orgulhoso de mim?
Adoro imitar você assobiando
O canto daquele misterioso pássaro...
Pai, desculpa por eu quase nunca ter colocado água
Na tua piscina dos passarinhos...
Esses dias eu vi o alho brotando,
Aquilo me fez lembrar de ti...
Um dia eu quero morar com você numa velha casa
Cujo quintal terá todas as espécies de vegetações
Que você sempre amou e cultivou...
Pai... (Tudo o que você me deu é parte de mim para sempre...)
"Giuliano Fratin, do livro Um Pedaço do Universo e Outros Trabalhos, 2008/09"
*Partes entre parenteses de Pam Brown, emprestadas com muito carinho do texto Casa do livro Para um Pai Muito Especial, Um livro-presente Helen Exley pela editora ARX... O belíssimo texto-poema Casa de Pam Brown me fez perceber os tesouros que a minha alma protege eternamente em relação ao meu querido e amado pai Sabino Fratin...
e agora... a postagem anterior a essa, que se chama Magnificências, poucos terão a capacidade e a coragem de lê-la...