Desígnios de Deus

A cada dia que passa, quanto mais meu corpo e mente viajam pelo tempo que me é ofertado por ELE, mais e mais Deus mostra-me o quão ele é importante na minha vida e na de todos nós. Deus é perfeito e sabe tudo aquilo que faz, nos mínimos detalhes. Felizes aqueles que têm capacidade para entender seus desígnios e vivenciar fatos e bênçãos que são colocados em nosso caminho todos os dias.

Cada dia é como se fosse o nosso primeiro dia de aula. Na escola da vida, felizes aqueles que conseguem obter boas notas, porque se a lição é aprendida, a vida transcorre de forma mais leve, muito mais feliz.

Durante minha vivência neste plano, muitas vezes fui submetida a provas muito duras, porém todas elas foram fundamentais para que eu pudesse dar mais valor à vida e as conquistas diárias que me foram proporcionadas.

No caminho percorrido ficaram muitas dúvidas, mal entendidos, casos mal resolvidos e tantos outros obstáculos, provocados principalmente pelas escolhas que fiz, guiadas pelo meu livre arbítrio e pelas estradas, as quais estas escolhas levaram-me no decorrer do tempo.

Um desses “mal entendidos” foi gerado quando eu ainda era solteira e era o sustentáculo da minha casa, o ser que provia o alimento e pagava a maioria das contas. Fui a última filha que se casou e infelizmente a escolha do meu marido não foi do agrado de minha mãe. Devido a essa diferença, sai de casa aos 26 anos e fui morar em outra cidade com ele, sem aquele papel assinado, que me tornava “uma senhora casada legalmente”. Essa minha atitude gerou indignação em minha mãe e, por consequência, quando eu resolvi legalizar a situação, ela recusou-se a comparecer ao meu casamento, alegando não compactuar com uma situação que não ia dar certo.

Ela estava errada... Meu casamento deu certo por doze anos e tive quatro filhos - sendo que um deles já se encontra junto do PAI há alguns anos - todos frutos dessa união, onde o amor era o carro chefe do lar. Esses filhos, se concebidos com outra pessoa, jamais seriam como são, e eu nunca quis ter filhos diferentes... amo meus três filhos da forma como cada um é, com suas particularidades e defeitos. Minha mãe também não veio ao batizado dos meus filhos e só me visitou duas vezes em vinte e dois anos...

E eu me recordo de cada visita. A primeira foi para despejar toda a sua ira naquela “filha desnaturada” que foi morar junto com um homem, sem casamento. A segunda vez foi quando sai de Taubaté para busca-la em Santos e leva-la até a cidade de Aparecida. Dormiu a noite em casa e, no dia seguinte, levei-a de volta para Santos.

Em 2011 minha mãe completou 81 anos no dia 27 de agosto. Em maio deste ano ela caiu no banheiro de sua casa e quebrou o pulso. Teve o braço engessado e, como os meus irmãos não puderam ficar com ela, minha mãe veio morar comigo para que eu pudesse cuidar dela. Minha primeira impressão foi a de que aquela era a oportunidade que Deus deu para eu curar minhas feridas, que ainda sangravam, e de minha mãe conhecer a filha que ela repudiara anos atrás.

Passaram-se três meses e minha mãe ficou sob meus cuidados. Neste período ela pode perceber que minha vida era dura, que eu trabalhava durante o dia e que, à noite, cuidava dos afazeres domésticos. Ela sempre soube que eu criei meus filhos sozinha, porque meu casamento acabou quando minha filha caçula tinha apenas quatro meses. Nunca tive ajuda financeira do meu marido e também desisti de procurar ajuda. Deus sempre me amparou e deu-me a oportunidade de lutar e seguir o caminho que escolhi, sempre com ELE ao meu lado.

Neste período que ela permaneceu em minha casa, experimentou muitas emoções... A principal foi voltar a enxergar depois de uma cirurgia nos olhos, realizada em 11/08... Quanta alegria ela sentiu... Veio de São José dos Campos para Taubaté lendo placas nas estradas, dos carros e caminhões que trafegavam junto comigo pela rodovia. Também experimentou imensa felicidade quando o remédio que ela tomava para o Mal de Parckinsons começou a fazer efeito imediato e ela parou de tremer...

Em 18 de agosto ela foi ao banheiro sozinha, enquanto eu fui buscar a cuidadora que ficava com ela para eu trabalhar, caiu no banheiro e fraturou o fêmur. Fomos para o hospital no carro de bombeiros e ela ficou internada para se submeter a uma cirurgia para correção da fratura e colocação de um pino metálico. No dia 23/08 foi para o centro cirúrgico e, após vários exames, foi constatado que o sangue dela não coagulava e a cirurgia foi suspensa. Ela tomou dois recipientes de plasma em 25/08, submeteu-se a vários exames de sangue em 26/08 e a um eletrocardiograma em 27/08. Como os resultados foram todos satisfatórios, ela iria ser operada no dia 30/08.

Dia 20/08 ela recebeu a visita da minha irmã e no dia 27/08 ela recebeu a visita do meu irmão e de dois netos. Quanta alegria ao ver os netos... Ficou olhando o mais novo e, quando perguntaram o porquê dela o olhar tanto, ela respondeu... filho, agora eu posso ver o seu rosto...

Fiquei todos os dias com ela no hospital, dei-lhe o alimento na boca, assim como ela fizera comigo há cinquenta e um anos atrás.

Dia 28/08, as quatro horas da manhã, um dia depois de completar 81 anos, minha mãe partiu desta vida para junto do Senhor... ela estava dormindo e eu dormia ao seu lado. No seu leito, após a partida, pude conversar com ela e dizer-lhe que todas as feridas estavam curadas, que ela podia partir em paz porque nenhuma mágoa permanecia dentro de mim.

Eu me senti em paz, como há muito tempo não sentia... Um sentimento, misto de tristeza e de alívio, alojou-se em meu coração... E eu percebi que minha intuição estava correta... Deus deu a oportunidade de nos aproximarmos no final de sua vida, de zerarmos todas as divergências, todas as mágoas...

E ela se foi... em paz...

E eu fiquei... em paz...

Agradeço a Deus, todos os dias, a benção de poder ter cuidado da minha mãe no final da sua vida, e senti grande necessidade de colocar isso no papel.

Precisamos estar atentos aos sinais divinos, com o coração sempre abertos para o perdão, para a compreensão de que cada ser humano é diferente e devemos respeitar como cada qual é.

Deus nos criou de forma única. Não existe nenhum outro ser sobre este planeta igual a mim ou a ti. Se ele nos criou da forma que somos, é porque precisamos ser exatamente como ele criou. Se não aceitamos nosso irmão da forma como ele é, estamos reprovando a criação do PAI e, consequentemente, duvidando de sua PERFEIÇÃO.

Magda Simões
Enviado por Magda Simões em 11/09/2011
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