Hoje o dia descerrou-se
cendrado e lacrimoso,
se bem que o escarlate
da buganvília incitasse
à exultação da manhã.
Silente, um cometa passou
num rasgo ao universo.
O meu olhar ofuscou-se
por muito que evitasse
e um invisível espinho
o meu coração feriu.
As mãos alisaram
as perpétuas flores azuis
e os frutos amadureceram.
A Eugénio de Andrade
(1948-2005)