Foi aos meus sete ou oito anos, no interior do Espírito santo.  Judiei um dia de uma rã, amarrando-a e abrindo-lhe a barriguinha, no campo, por mera curiosidade idiota, nada mais.

          Minha mãe soube, já veio com uma vara, dois chinelos, sei lá, e como apanhei.  E que saudades daquelas palmadas.  Nunca antes e nunca depois molestei animal algum.
          Mato apenas baratas, dentro de casa, incomodando.  Nem na rua.  (Dei sorte, porque em Cabo Frio não há baratas circulando nos imóveis – às vezes alguma, na rua.  Só.  Ratos nunca vi.  Palavra.)

          Já a conscientização ambiental (árvores, natureza) veio apenas na juventude, quando estive preso no Batalhão Florestal da Polícia Militar, em São Gonçalo, suspeito de subversão e guerrilha, na época da Ditadura Militar.  Nada tendo a fazer, passava os dias nas árvores, colhendo e comendo frutas (carambolas, goiabas, jabuticabas, jamelões, mangas...). 

          Num daqueles dias, plantei duas mudas de manga, em pleno sol, sem livrá-las do saco plástico e sem molhar a terra sequer (coisa de amador mesmo – rsrs). 

          Meu gesto não foi infrutífero nem passou despercebido: um cabo e dois capitães viram esses esforços, e me orientaram: 
          - Plantar é pela manhã ou à tardinha.  Tem que afofar e molhar a terra.  Tem que isto, tem que aquilo... 

          Continuei, tomei gosto.  Em breve, naquela curta temporada, passei a cuidador dos jardins e plantas do batalhão.
          Um dos oficiais se chamava Luís Antonio Ferreira.

          Libertado, continuei plantando e cuidando, já na Baixada Fluminense (Belford Roxo).  Depois, em Nova Iguaçu.  Mais recentemente, em Cabo Frio.  Só parei há algum tempo, devido à idade e outros compromissos. 
           
          Entretanto, prestando bem atenção, percebe-se até hoje, guiando-me as mãos, a indignação e o quase choro de uma mãe naturalmente zangada, surpresa, raivosa. 

          Relutei toda a vida para relatar esta primeira e única maldade minha com animais, e se hoje o faço, é lavando a alma, é apaziguando a consciência, senhoras e senhores.

Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 07/09/2011
Reeditado em 11/09/2011
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