Tinteiro de lágrimas
Hoje minha homenagem vai para a dor, para a saudade, para a ausência.
As lágrimas dos meus olhos são a tinta e minha mente o papel. É com lágrimas que eu grifo seus traços mais importantes e é também com lágrimas que eu borro minhas roupas, meu caminho, minha vida.
Com a mão tremendo eu molho a pena no tinteiro e ainda tremendo eu tenho segundos de indecisão e com traços mal-delineados eu transcrevo o título da minha obra sangrenta.
Não consigo formar frases, penso e penso 2, 3 ,4, 10 vezes mas da pena me fogem as palavras que formam a frase, só consigo pensar em dor, culpa, saudade, ausência, carência.
No momento não consigo nem exprimir significado para estas palavras pq eu to vivendo dentro de mim todos estes significados. Eu invejo a felicidade alheia como aquela criança carente que daria a própria vida por aquele brinquedo ignorado pela criança rica, aquela que tem tudo o que quer e não quer tudo o que tem.
O que eu não faria por alguns momentos mais de plenitude e/ou felicidade completa?
Ouço o som do vento lá fora e vento tenho vontade de ser, tenho vontade de espalhar as folhas largadas ao chão, de despentear as melenas, de causar arrepio ao toque.
Tudo inalcançável.
Tão inalcançável quanto a felicidade de quem tudo perdeu e só carrega a esperança de que a morte chegue logo, pois não suportaria a dor da fome, da solidão, da miséria e da saudade.
Ao me dar conta disso deixo a pena cair ao chão e com assombro vejo a tinta respingar pela minha roupa toda, também com assombro percebo minha insignificância e ainda com assombro tento inutilmente limpar as lágrimas que escorrem pela minha face, com assombro destruo o meu papel e com assombroso assombro me prometo não mais tentar.