Elegias de Mauro Mota
Tive a certeza de eleger para a Academia Brasileira de Letras, o poeta pernambucano Mauro Mota. Em 1951, conheci sua poesia, pelo sumário de seu livro, que nunca tive oportunidade de comprar - As Elegias. Sei lá por que motivo, nunca o encontrei nas livrarias; nunca mais me saíram da cabeça; havia um pouco de desespero, quando eu lia em voz alta alguns dos versos.”Insone e inquieta na pequena cama, na longa noite Luciana chora e à mamãe, tão distante, chama como se ela pudesse ouvi-la agora; não quer o pai também não quer sua ama, só a mãe que a deixou e foi embora; no seu choro infantil pede e reclama a canção de dormir que ouvia outrora; mas aos poucos na noite vejo-a calma, para alguém seus braços se levantam, junto do berço maternal tua alma canta a canção de doces estribilhos, que as mães mesmo depois de mortas cantam para embalar os pequeninos filhos!" Em 1983, pedi a minha amiga Eloina que o procurasse em Recife e tentasse conseguir as elegias. Ela me trouxe a Antologia em Verso e prosa e Pernambucania. Mauro Mota estava com câncer e morreu logo depois. Preocupava-se com o social, como se pode observar em sua poesia. Cita Lua Branca cangaceiro de Lampeão - " Deus criô a terra pra todos; eles viero e cercaro tudo. Mauro Mota coloca sua arte traduzindo: " Cercaram tudo só a gente não sabe mais onde mora, não tem pra onde ir embora, cercado, o mundo é o mundo sem lado de fora, sem brecha nem beira, mundo dentro da gaiola; a cerca da mata mata, seca a cerca do sertão, só fica preso o vivente quando expulso da prisão." Assim era o poeta. Procurem ler as elegias mas não sei como conseguir exemplar. Guardo algumas na memória. Eu iniciei o texto falando sobre a ABL, pois, tinha a certeza de que o poeta era tão extraordinário, que um dia seria eleito para a Academia;naquela época eu acreditava que na Academia só entrariam grandes nomes da literatura, como Guimarães Rosa e outros iguais. Depois, vi que a verdade era outra - políticos, também, entravam na Academia, sem terem qualquer mérito.Um outro que mereceu entrar para a Academia foi o Evanildo Bechara, grande filólogo e pessoa de extrema simplicidade. Houve um tempo em que até general virou acadêmico!
Nota: textos entre aspas de autoria de Mauro Mota.