jazigo de um sabiá
Um sabiá, preso em seu aposento,
Pulava sobre a varanda arredia,
Seu olhar contestava o tormento,
Marcado pelos sintomas que sentia.
Acalmou-se, no fundo da prisão.
As penas cinzentas e arrepiadas,
Descontente, vendo o chão
Que outrora cantou nas madrugadas,
Pôs um pedaço de manga ao bico,
Soltou-o, bicou um pouco de água suja,
Balançou todo o seu corpo triste,
Encolheu-se, junto à vasilha, de cuja
Comida já estava cheirando mal.
Baixou a cabeça, numa tremedeira,
Ouviu uma voz, era dum som casual;
Abriu os olhos, viu o pé de laranjeira,
Ficou admirado, olhando a folhagem
Que o vento levava e trazia!
Uma saudade lhe veio à tona,
De quando voava e subia,
Entre galhos, onde sempre cantava
Com outros sabiás nas campinas;
No seu pensamento restava
A memória dos montes, das colinas...
Neste ar de ternura e piedade,
O pobre do sabiá, tristemente,
Cantou sua última punidade,
Por condenar-lhe, eternamente!...
Pombal,
28 de dezembro de 2009.