À minha rosa no inverno...
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Antes de começar, gostaria de dizer que escreverei esta homenagem sem que a pessoa saiba. Porque, ela tem 100 anos... Não tem o mesmo vigor de antes e sua memória é falha.
Seu nome é Izabel Macêdo, minha bisavó.
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Não sei se o que escreverei pode ser enquadrado como "homenagem". Minha opinião é que seja, apenas, um desabafo. Ou um gesto de amor, carinho e afeto em terceira pessoa...
Voltei da psiquiatra e a vi deitada numa poltrona reclinável. Uma fina chuva molhava o jardim à frente. E quando olhei para seu rosto magérrimo, tive um déjà-vu.
Lembrei-me como ela podia andar, falar sem tossir, respirar normalmente...
Eu a vi envelhecer e ela me viu crescer...
Depois, a realidade bateu à porta e minha íris voltou a vê-la. Deitada, sem saber se vive num sonho...
Lágrimas ardentes, quentes e salinas marejaram meus olhos. Algo que não faço há tempos. Sim, assumo um papel de ser "durão". Coisas minhas. Mas, meu coração bateu fraco ao vê-la.
Senti algo que não sentia há muito: compaixão.
Como a chuva, as lágrimas não queriam extinguir-se. Abalei-me.
Então, fiz uma analogia.
Comparei-a à uma rosa:
Na Primavera, teve seu vigor ao máximo; mostrou o quanto era bela e forneceu seu pólen e cheiro.
Contudo, o Outono chegou. Suas folhas, antes vistosas, agora caem com o tempo. Sua cor rubra foi ficando pálida. As pétalas ficaram murchas. Sua magnificência foi sumindo... Aos poucos...
Agora, sei que o Inverno virá. E ele a levará embora para sempre. Sem pena, sem anúncio. Sua lufada gélida pode ser a qualquer momento.
E para mim, um espinheiro, ficarei com saudades.
Sei que conseguirei conformar-me, pois outras Estações virão.
À minha bisavó que não lerá esse texto, mas que num mundo paralelo sabe o quanto a amo; mesmo colocando uma "máscara" de seriedade: escrevo esse desabafo-homenagem.
Não direi adeus. Apenas balbuciarei "até logo, vó".
Pois, o Inverno, um dia, levar-me-á também.