DE PAI PARA FILHO
O meu amigo e compadre ED.Alencar, me mandou algumas fotos e este texto que ele escreveu em homenagem ao seu Avô; Termina seu texto com um belo poema com o Velho Engenho de Pau.
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DE PAI PARA FILHO
O HERDEIRO DA ÚLTIMA MOAGEM Por. ED.Alencar
Ainda criança montado na garupa do cavalo, agarrado a cintura do seu pai Abdon, o
promissor ecologista mirim, Jefferson da Franca Alencar, deixavam o casarão branco e azul onde moravam e ainda hoje existente as margens da estrada do lameiro, para
trabalharem na tradicional moagem da cana-de-açúcar no velho engenho de pau do
Sítio Fundão.
Entre 1927 e 1928 após a morte dos seus pais, Jefferson, herdou o Fundão e o velho
engenho para da continuidade a principal atividade que existia no sítio, ‘’as moagens,’’
se dedicando posteriormente, a fazer da propriedade uma reserva ecológica.
Em 1949, teve a triste missão de encerrar o ciclo familiar das moagens,
motivado pela praga da cana que atingiu na época, os canaviais da região, além das
dificuldades de encontrar bois adestrados, para a formação de juntas que tracionavam
as moendas do velho engenho gemedor, tão famoso pela sua estrutura e engenharia
secular. Eu não alcancei estes bons tempos de moagens, mais lembro-me quando
Criança, correndo em volta do velho engenho aposentado, para espantar os morcegos
que se penduravam no telhado do galpão, para uma revoada um tanto assustadora
pelos rasantes que davam sobre minha cabeça.
O tempo passou! O herdeiro, Deus chamou! E hoje, ao olhar o que resta desse passado, que dia-a-dia vem morrendo nas mãos do Governo do Estado por falta de atitude, descrevo assim em versos,meus sentimentos e revolta pelo descaso a nossa historia cratense.
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VELHO ENGENHO DO PAU GEMEDOR
Meu velho engenho de pau
Sento-me agora ao teu lado
Escuto até teu gemido
Ao recordar teu passado
Coração bate mais forte
Com pena da tua sorte
Fico triste e desolado
Seu movimento era feito
Por quatro bois adestrados
Ao grito do tangedor
Eles eram comandados
Quando a moenda rangia
O som que dela saia
Á musica era comparado
A cana quando moída
O resultado é doçura
Produz a doce garapa
O melado e a rapadura
Na lida da produção
Era grande a animação
Festa, trabalho e fartura
Como tudo era bonito
Velho amigo gemedor
A venda da rapadura
Pagava o trabalhador
Que na luta se doava
E o dinheiro que sobrava
Ficava pra o produtor
Imagens formam desfile
Na tela da nossa mente
Os cambiteiros cantando
A gente vê de repente
De longe, o feitor gritando:
A cana está acabando!
E a tropa seguindo em frente
Cada um que lhe visita
Sofre com sua aparência
Vê no seu gemido, súplica
Que implora e pede clemência
Aquele tempo de glória
Ficou pra trás na história
Só restou triste aparência
Mesmo sem possuir voz
Parece até implorar
Amigo, me tira daqui
Pra longe do Ceará
Em outro lugar talvez
Eu encontro voz e vez
E alguém pra me salvar
Voltando aos dias de hoje
Procurando o teu valor
Só se escuta o teu gemido
Triste e desesperador
Se ali chega um visitante
Vê o engenho suplicante
Em busca de um salvador
Olhando com atenção
Avistam-se perdas e danos
Pinceladas de tristeza
Num quadro de desenganos
Como exemplos, o canal
E a destruição total
Deixando o povo sem planos
O governo que constrói
Selva de pedra a vontade
Não reconhece a riqueza
Que tem fora da cidade
Velho engenho gemedor
Enterraram teu valor
Tua história hoje é saudade
Uma história construída
Vendo só modernidade
Não edifica nem soma
Nem supre a necessidade
Da tradição conservada
Na memória preservada
Em prol da humanidade
Nosso Cratinho de açúcar
Mostra um prisma original
Na sua lista de perdas
Tem enredo especial
Ao longo da sua história
Perdeu tradição e gloria
Num quadro triste e real
Um exemplo bem concreto
Nossa mente fixou
Lembre-se do Padre Cícero
Sua casa, o que restou?
Daquela edificação
Que seria uma atração
Nenhum resquício ficou
O engenho pelo governo
Já foi desapropriado
Três anos já se passaram
E nada foi realizado
Só o descaso vigora
A cada dia piora
Pelo estado abandonado
No mês de março houve festa
Muita gente lá falou
Tantos dias já passaram
E nada ainda mudou
O aceno da esperança
Ficou em nossa lembrança
Só na promessa ficou
Eu sofro por ti também
Velho engenho gemedor
Se eu pudesse te instalava
Em OURO PRETO OU SALVADOR
Pois longe do Ceará
Protegido ia ficar
Teria o justo valor
ED.Alencar (Ambientalista e Radialista)
Revisão Josenir Lacerda (Poetisa, Cordelista Cratence)