Tia... Certa vez, absorvido pela natureza cruel e misteriosa da morte, eu escrevi:
 
“Não sei lidar com a morte. Acho que ninguém! A morte frustra a nossa sede de viver e, portanto, de crescer. É inevitável... A morte causa uma dor desmedida, aguda, crônica. E há remédio? Não! O homem já inventou de tudo, mas não chegou e nem chegará ao antídoto da morte. Ela sempre existirá e nos alcançará... No seu tempo, o tempo que não nos cabe saber. Gosto de pensar na morte como um lançar-se nos braços de Deus e ali ficar!”
 
Tia... Ontem nós nos falamos e sua voz estava como a própria tristeza. Era um fiasco de voz que me falava dos planos de na primavera vir nos visitar. E eu falei da felicidade que as flores do meu sertão ficariam ao rever a filha querida que há muitos anos resolveu arrumar as bagagens, enchendo-as com a esperança e a resistência indo embora pra cidade grande, grande como a nossa distância.
 
Tia... Eu te falei da minha saudade, da vontade de te cuidar e da revolta por estarmos longe. Eu ri, você riu... E eu disse que muito te gostava.
 
Eu disse até logo... Você disse adeus.
 
Fiquei com a sensação de que aquele adeus era pra logo. Mas, por que da pressa. Pra quem vão se exibir às flores? Elas estavam se enfeitando, se perfumando só pra arrancar dos seus lábios o riso teu.
 
Olha Tia... Hoje as flores estão no chão e os pássaros no canto da solidão.
 
A Canção da Despedida¹ se espalhava pela casa quando a notícia de sua partida chegou. Coincidência ou não, era você quem estava no meu coração.
 
E eu sei que você vai embora, mas sei que vamos nos encontrar pra contemplar a beleza das flores, da primavera e do Sol da vida.
 
“Amor não chora, que a hora é de deixar”
Pra sempre Tia você vai ficar. 
 
“Já vou embora, mas sei que vou voltar”.
Você volta? Posso pedi pra as flores de setembro brotar?
 
“O amor de agora, pra sempre ele ficar”.
O amor que você me escrevia nas cartas de infância, não é Tia?
 
“Eu quis ficar aqui, mas não podia”.
Eu sei Tia... O seu caminho a mim não conduzia. Eu sei que o Rei Coroado cobiçava-te.

“Amor não chora, eu volto um dia”.
Eu vou esperar. Assim, como eu fazia quando criança... E você chegava nas cartinhas coloridas, selada pelo seu afeto.
 
“Quando eu me despedia”.
E eu no meu canto lhe dizia... Pra sempre você vai ficar!
 
Boa noite Tia... Dorme em paz nos braços de Deus!
 

Saudades...


 
 

¹ Composição: Geraldo Azevedo e Geraldo Vandré
 
Toni DeSouza
Enviado por Toni DeSouza em 08/08/2011
Reeditado em 08/08/2011
Código do texto: T3147608
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