LIÇÕES SEM PALAVRAS
Por muito tempo eu pensei que meu pai não tinha me ensinado nada nesta vida. Por ser ele um homem de poucas palavras, pensava eu que o fato de pouco se comunicar comigo seria uma espécie de indiferença ou descuido.
Mas também não vou negar que esse fato da ausência de conversas muito me fez falta. Afinal, haverá melhor conselho do que o de um Pai?
Mas a vida passa.
Passa-se a vida e as pessoas se modificam. A regra do mundo é mesmo essa, a da mudança constante de tudo quanto existe. “Tudo muda o tempo todo no mundo”, já dizia o compositor popular. Nisso, tanto eu quanto meu pai mudamos muito.
Hoje meu pai é mais falante, mais tranquilo, ele já não têm mais tantas preocupações com as inúmeras demandas da vida. E depois que me casei, comecei a me sustentar e com o nascimento de minha filha, o tratamento que meu pai começou a me dar foi outro. Nesse tempo ele já conversava muito mais comigo e me tratava como se devia tratar, como HOMEM.
Devo esclarecer a todos que esse homem de poucas palavras, meu Pai, sempre foi alguém de grande respeito e dignidade. Nunca, jamais vi meu Pai assediando ou com algum tipo de intimidade com uma mulher que não fosse minha mãe. Raríssimas foram as vezes que o ouvi falando algum palavrão e, mesmo assim, de forma alguma o vi ofendendo alguém.
Nesse homem, meu Pai, jamais percebi qualquer tipo de preconceito. Nossa casa era frequentada por todas as etnias e todos os credos. Bom pagador, nunca vi alguém cobrando de meu Pai alguma dívida que ele tivesse deixado de pagar.
Muito pelo contrário, numa época em que o crédito era de difícil acesso, meu Pai era procurado por lojas e empresas que queriam lhe oferecer seus produtos e serviços.
O Sr. Francisco, meu Pai, sempre foi muito trabalhador e honesto, não me lembro de tê-lo visto faltar ao trabalho, chegar atrasado a algum compromisso ou faltar com a palavra com quem quer que seja.
Hoje, numa fase difícil da minha vida, aparece-me Alguém do nada. E o que sinto é que essa Pessoa trouxe até mais integração à família. Comentava com Ela sobre minha vida e Lhe contava que meu Pai tivera pouca influência naquilo que sou hoje; no que Ela me respondeu rapidamente com um sonoro NÃO!
Não, meu amor, você está enganado. Disse-me Ela.
Seu pai te ensinou muito nessa vida, mas foram lições sem palavras. Lições sem palavras, pois o que de fato educa, ensina, forma e dá os contornos do caráter de alguém é o exemplo de vida dessa pessoa, e não as muitas palavras que ela profere por mais lindas ou amistosas que sejam.
Ora, o exemplo de vida prática de meu Pai é o de uma conduta irrepreensível. Não há o que apontar em meu Pai que signifique alguma falta de integridade ou decoro. De fato, tanto meu Pai quanto minha Mãe; Mãe que também possui, sem exceção, todas as qualidades que disse sobre meu Pai, nunca foram pessoas que impuseram sua vontade sobre os filhos.
Sempre fomos orientados, mas também continuamente foi frisado que devíamos fazer o que fosse melhor para nós mesmos. Decidindo e sendo responsáveis por nossas vidas, eu e meu Irmão.
O resultado das poucas palavras de meu Pai e de seu exemplo de vida prática é que hoje posso dizer para mim mesmo, com toda convicção, que sou um HOMEM. Um homem maduro, responsável, íntegro e que possuo todas as qualidades que tanto me Pai quanto minha Mãe têm e me ensinaram.
Ou seja, essas duas pessoas, meu Pai e minha Mãe, Sr. Francisco e Dona Ester, construíram com êxito e louvor o caráter do homem que hoje sou.
Foi preciso aparecer Alguém muito especial de fora do nosso convívio para que me apontasse o quanto de influência meu Pai teve sobre mim. Deixo aqui também o meu muito obrigado a ela, a minha doce esposa Adriana.
Meu Pai me deu a maior lição que algum Pai pode dar a um filho, uma lição sem palavras, ele me ensinou a ser HOMEM.
Sr. Francisco, meu Pai, obrigado por ter me feito HOMEM, muito obrigado.
Do teu filho,
Frederico