Alma Sertaneja – Aldemar Alves
 
Eu vou contar uma história
com a voz que tenho agora
mas é dum tempo de outrora
do tempo da palmatória.
Não repare o palavreado
sou um caboclo do sertão
onde se fez meu coração
não tive tudo que queria,
mas o dom da poesia
aprendi amando meu chão.
 
Foi uma Infância abençoada
em Lagoa de Belamente
de simples e honesta gente
que pôs fé em minha jornada.
Brinquei com os pés na terra
e em benditos e reisados
meus sonhos foram forjados
aprendi os versos brejeiros,
de cantos e versos forrozeiros
de violas e cordéis afinados.
 
E foi ruminando minha estrada
que a linda Recife me conheceu
e ali por 2 anos esta alma viveu
as saudades da terra amada.
Em 60 me chamou a vida do sul
prolongando o meu exílio,
na verdade fortalecendo meu idílio
pelo trabalho sério e sem risco
na Hidroelétrica do São Francisco
onde fui muito mais que um filho.
 
Do 2º ciclo tracei o próprio destino
aproveitei os cursos da empresa
que além da comida na mesa
realizou meus sonhos de menino.
No retorno ao torrão natal
juntei   luz negra, e noites viradas
pé de balcão,  e em aboios e toadas
deslizei a vida em dança de roda
rabo de saia, e tudo que era moda
realizando as carências sonhadas.
 
Nestas passagens do meu viver
devo dizer da veneranda ternura
que é muito mais que uma jura
é a declaração de amor de um ser.
Falo do meu querido São Francisco
da transposição pra ajudar a nação
não quero nada de beijada mão
apenas quero um projeto decente,
e reaver a dignidade da gente
que vive e morre no meu sertão.
 
Eu já vi tanto nesta terra de Padim
fui lá onde a pobreza sonhou
com o verde que o sol acabou
que a emoção deles ficou em mim.
Não sou um Conselheiro de Canudos
que prometeu leite e cuscuz
tudo que a minha palavra traduz
é poesia amizade e grande carinho
longe do que diz o branco colarinho
digo a esta gente ter fé antes em Jesus.
 
Quem vier por estas terras passear
vá ao cariri, não se prenda a capitais
pois toda a beleza dos litorais,
você vê nas almas de Ribamar.
E se por acaso olhar meu Garanhuns
lembre que aqui mora um amigo
um poeta que canta contigo
e nestas andanças pelo nordeste
se vier do sul do leste ou oeste
venha em paz, que cearei consigo.
 
Se por acaso no céu você olhar
Uma estrela cintilante
distante, muito distante
talvez seja eu que deva estar.
Olhando o mundo de cima
escrevendo minhas poesias
enaltecendo o meu cordel
das coisas do meu mundéu
da nossa sertaneja alegria.
 
E quem sabe um dia pra frente
eu tiver que deixar o meu chão
não ligue pois meu torrão
fala com o coração de sua gente.
Eu sou tão somente uma voz
falando da alegria e da dor,
que tem forças pra falar da flor
que nos traços dos seus versos
fala de brasileiros diversos
juntinho e feliz do seu amor.
 

Malgaxe



Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 31/07/2011
Código do texto: T3130562
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