A Henfil, com todo o carinho

I

A comunhão entre o ser pensante e o seu respectivo 'universo' pensado (a despeito de tal posibilidade, salientamos crer em uma perspectividade (universalidade) correlata ao corpo pensante) é uma maneira de, sem se desvencilhar das críticas Nietzscheanas quanto à verdade universal (apontamos a relação entre perspectividade e 'universo' pensado), fazer com que o indivíduo seja (comungue) com a natureza sem se perder em conceitos espiritualistas. Além disso, não obsta a intuição da praxis, pois, ao estar inserido (mais precisamente: ser parte) no mundo através de um sistema 'natural' o indivíduo assume suas ações, seus pareceres, como fenômenos aptos a constituir seu mundo - que é, em contrapartida, o 'mesmo' para todos nós.

A busca que fazemos através de nosso sentidos (também chamada vida - animal?) dá a tônica para o que detectaremos em nossa ideologia. Ou seja, antes de advogarmos uma radical introspecção (ou seu 'contrário' uma radical dispersão no cosmos) cabe-nos intuir os diversos graus de sutilezas que nos rodeiam como sutis peripécias que nossos sentidos nos permitem, sem, contudo, precisar aferir que o que nos 'toca' o faz exclusivamente em nós. É simples e óbvio. É, ao mesmo tempo, elogiar o 'espírito' (sprit), e saber que, sem negar a diversidade natural, o que se nos apresenta está para ser captado por sermos, nós, captadores - não por uma essência qualquer da natureza (mais ou menos: a clareira de heidegger está 'aberta' por conta da propensão humana em procurá-la). O que não quer dizer que o que existe é dependente de nosso ponto de vista. Aí já é demais, non?

II

Enfim, quando a psicanálise soube nos apontar a relação indivíduo-mundo, justamente a nossa capacidade de relacionamento com o mundo, acentuou a influência (aliás, aqui tida confluência) do meio nos mecanismos psíquicos do ser humano. Daí para a síntese que ilustra a comunidade entre indivíduo e natureza há um 'caminho lógico', pois admitir percepções 'inconscientes' como capazes de 'interferir' em nossa 'consciência' abre o leque das possibilidades perceptivas para algo, metaforicamente, semelhante à 'visão periférica' - ou ao extremo subliminar?

Admitir o caminho inverso (a saber a influência das ações humans em nosso ambiente natural) é não somente fazer um elogio à praxis (técnica), mas determiná-la como indisolúvel do nosso convívio com o mundo. Ou seja, mesmo o indivíduo menos ativo, menos preocupado em agir em prol de alguma coletividade (o chamado alienado por alguma ideologias) pertence ao mundo, e tem, em seu viver, algo de praxis. Pode-se até combater a inocência de tal ponto de vista com algum argumento que dê, à praxis, um teor mais apurado em relação à atuação consciente do indivíduo. Mas esta 'seleção' não obstará a influência prática do homem comum no curso do mundo.

III

Um chamado, dos mais sinceros, partiu de Henfil (a delicadeza com que via as coisas, logo, com que tinha suas idéias, mostrava uma fragilidade e uma perspicácia altamente compatível a esta; isto o tornou um homem 'de saber'): humanizar, fazer uma sociedade 'social', socialmente (é o grupo, a espécie como tônica). Carecemos de mais 'henfis', 'henfis' que precisem, mais que tudo, para sobreviver até, pensar ao extremo, conviver com pés ágeis - esta nietzscheana que reflete uma leveza, um cuidado no ritmo, um sentir o que 'o outro' parece ser - e acertar, e pôr à mesa - apesar de tudo, não se escondem os 'henfis', não se omitem ao labor, à crítica.

Carecemos de pessoas 'como' Henfil, ciente de sua fragilidade (humana) e disposto a acolher...