Recomendações de uma Leitora de Manoel de Barros

Estou lendo a “Poesia Completa”, de Manoel de Barros. Comecei tem uns dois meses. Um livro apaixonante. Vim aqui recomendá-lo.

Você a de me perguntar como posso levar esse tempo todo para ler um livro com no máximo 500 páginas e ainda dizer que é apaixonante.

Bem, para ser sincera, eu ainda não cheguei à metade do livro. Acho que li umas 200 páginas até agora. E posso afirmar, com absoluta certeza, que é apaixonante.

Existem bons motivos para eu estar na página 200, acredite.

Na verdade, são duas coisas.

A primeira é que eu descobri que leio Manoel de Barros muito melhor em manhãs de domingo. Sim, porque os domingos, já há muito tempo, fazem manhã em mim. Manhãs de domingo escorrem – o que é perfeito para desaprender coisas. Principalmente se você está experimentando-se lagarto pela primeira vez. Hoje, por exemplo, descobri que há lagartos que dão para pedra e outros que dão para água. Domingo que vem vou tentar experimentar-me lagarto que dê para água. Porque essa coisa de tentar-se lagarto, para alguém habituado a nuvem e borboleta, é, verdadeiramente, muito difícil. Pode ser que eu esteja tentando o tipo errado de lagarto. Imagino, de qualquer forma, que eu dê muito mais para água do que para pedra. Vamos ver.

A segunda é que o verso de Manoel ecoa na gente. Você lê um verso e fica ali, olhando o eco do verso. Não dá para seguir adiante, lendo outro verso, antes de absorver aquele que está ecoando na sua frente. E têm uns versos que dão vontade de ficar manhã inteira olhando, meio como quem solta o olhar na beira do mar esperando maré subir só para descobrir o que vai sobrar de areia.

Enfim, voltando ao assunto inicial: Vim aqui recomendar um livro apaixonante que está germinando em mim.

Chama-se “Poesia Completa”. O autor é um poeta com nome de passarinho.

Flávia Côrtes

Poeta, Leitora de Poesia e Desaprendiz de Coisas

Julho de 2011