Na cama com Chico Buarque
Hoje me deitei na cama, aconcheguei-me e coloquei para tocar o novo CD de Chico Buarque.
É indescritível uma experiência tão próxima da perfeição.
Não me é estranha a beleza a do seu texto, da sua música, mas ela ainda tem o poder de me surpreender, de me hipnotizar, como na primeira vez.
E a beleza, meus caros, tem os seus caprichos. Ela não se dá a todos sem reserva.
Qual mulher dengosa escolhe com critério só seu a quem deseja entregar-se.
Entretanto, quando me refiro à beleza, não estou a evocar tão somente a aparência física, fugaz engano traído pelo tempo.
Falo das coisas belas, que tocam a alma de forma definitiva. Daquelas que os anos não maculam. Das que resistem até aos séculos. Assim como uma tela de Van Gogh, de Monet, como uma sinfonia de Amadeus, um traço de Niemeyer, um poema de Pessoa, a dança de Baryshnikov...
Foi assim que a beleza da obra de Chico Buarque deitou-se comigo na minha cama.
Ela, em sua maturidade, ainda guarda a capacidade de rejuvenescer, de renascer. E renasce mais linda a cada vez.
Deitou-se hoje na minha cama o talento meu velho conhecido e então se superou.
Perdoem-me aqueles que apontam apenas bactérias, átomos e espetáculos pirotécnicos galácticos como pais da humanidade (não que eu deseje ignorar a evolução), mas de que maneira fariam florescer nas pessoas tamanha sensibilidade?
Proponho que deitem, aconchegados, em suas camas e testemunhem o milagre do Poeta ateu.
Assim, Francisco, eu não tenho modo de ignorar um Deus apreciador das coisas belas.
http://meumardeletras.blogspot.com/2011_07_01_archive.html
Paz e bem!
Jane Simões
22/07/2011