Lia

Lia, a abadessa.

Lá vai Lia com seu véu e hábito monásticos

Lembrando em seu nome beneditino Teresa a Grande

Pelo tamanho de sua missão, mas igualmente lembrando

A Teresa Pequenina pelo espírito de infância em tudo que fazia.

Lá vai Lia, a menina de Petrópolis, de infância construída em cores e pensamentos.

Lá vai Lia que guardava como identidade

as cartas diárias em que por décadas seu pai Tristão de Athayde abria-se à sua Lia, o dia a dia da sua alma.

Diálogo cultural de duas gerações no extraordinário coloquial do cotidiano.

Lá vai Lia mulher forte da Bíblia

Que conduziu da avenida Paulista para a serra da Cantareira

A nova face da Abadia de Santa Maria, mosteiro beneditino do qual foi a terceira abadessa. Uma casa de muita moradas.

Lá vai Lia, madre abadessa, grande dama da vida monástica

Como Cecília Meireles o foi de nossa poesia.

Ambas com o mesmo timbre angélico, humilde, engraçado.

Lá vai Lia que como seu pai Alceu Amoroso Lima

Escrevia com o estilo solto num pensamento que não precisava de qualquer atavio. Assim também a sua oração monástica, espontânea voz dos sem voz.

Lá vai Lia partida tão leve, que quase não se deu por isso.

Lia, abadessa Dona Maria Teresa, que parecia eterna e invencível,

Tantas vezes travara com o diabetes

um combate semelhante ao de Jacó e o anjo

de onde saía vitoriosa e mais cheia de alegria-benção.

Lá vai Lia,

Com as mãos agora em cruz e serenas,

No anular da mão esquerda o anel do seu esposo amado

Que veio buscá-la no primeiro dia de julho,

Sagrado Coração de Jesus!

P.S. Em 1º de julho de 2011, Solenidade católica do Sagrado Coração de Jesus, morreu a abadessa beneditina da Abadia de Santa Maria da Ordem de São Bento, madre Maria Teresa (Lia) Amoroso Lima, Tinha 82 anos de idade, 59 de vida religiosa e há 33 anos era abadessa da Abadia localizada no Jardim Tremembé, Região Santana de São Paulo. Ela foi a 3ª abadessa do mosteiro que neste ano completa 100 anos. Seu pai, o pensador católico Alceu Amoroso Lima foi o primeiro protagonista da resistência democrática do País contra o governo militar de 64.