Para as crianças do mundo inteiro ficar órfão de pai e de mãe aos sete anos de idade é um golpe do destino; entretanto, para Tomás Novelino a orfandade foi uma bênção e uma graça.

Tomás era filho de Tomás Novelino de Aquino e de Auta Maria das Dores Novelino; nasceu aos seis dias do mês de outubro de 1901, em Delfinópolis, antiga Espírito Santo da Forquilha, um arraialzinho na beira da Serra da Canastra

Em 1908 Tomás ficou órfão, juntamente com seus irmãos Natália, Alice e Nestor.

O tutor de Tomás foi o um tio: José Gonçalves Novelino – pai de Corina Novelino.

Na condição de tutor, o tio internou Tomás no Orfanato Anália Franco, em São Paulo: o futuro educador fazia, sem o saber, a sua iniciação pedagógica.

Anália Franco Bastos nasceu em Resende (RJ) aos dez dias do mês de fevereiro de 1856 e faleceu em São Paulo aos vinte dias do mês de janeiro de 1919; certamente, Tomás conheceu Anália Franco – a brasileira do século XIX.

No Orfanato Anália Franco, o menino Tomás ficou por cinco anos. Eis a primeira bênção e a primeira graça, geradas pela orfandade de Tomás.

Anália Franco é a súmula de todos os predicados de uma mulher de bem – segundo a concepção espírita de Homem de Bem: nenhuma mulher, na história do Brasil, fez tanto pela sociedade quanto o fez Anália.

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Anália foi professora e sua imensa obra social e educativa teve por base político-pedagógica enfrentar a marginalização da criança negra, o abandono da mulher e da criança pobre, a discriminação religiosa e sexual, a marginalização da mulher prostituída: para esse enfrentamento criou e supervisionou Escolas Maternais, Creches, Cursos Profissionalizantes e de Formação de Professoras, Casas de Recuperação ou de Regeneração, Asilos e Colônias, Revistas.
A originalidade pedagógica da obra de educação de Anália Franco pode ser estudada em várias direções:
- foi a primeira educadora no Brasil a empregar os termos Escolas Maternais e Creches;
- criadora da primeira banda de música inteiramente feminina no Brasil;
- indiscriminação de crença, raça e etnia em suas Escolas;
- não separava educação e trabalho profissionalizante para alunos mais velhos;
- valorização social e política da mulher numa época em que o único lugar permitido para a mulher era o de ser esposa e "dona" do lar. 

Anália Emília Franco renasceu no em Resende - Rio de Janeiro a 1 de fevereiro de 1856; aos cinco anos, seus pais (Antônio Maria Franco e Teresa Franco) mudaram-se para São Paulo aonde desencarnou aos 20 dias de janeiro de 1919, vitimada pela gripe espanhola.

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Em 1913, após sua iniciação no universo psicopedagógico de Anália Franco, Tomás Novelino voltou para a cidade mineira de Delfinópolis e nela permaneceu até o final de 1915.

Em 1916, Tomás Novelino foi estudar no Colégio Allan Kardec, em Sacramento – Minas Gerais: seu professor, Eurípedes Barsanulpho. Eis a segunda bênção e a segunda graça, geradas pela orfandade de Tomás.

No Colégio Allan Kardec, o jovem Tomás Novelino ficou até a morte de Eurípedes em 1918.

Em se tratando de uma terra fértil para acolher e fazer multiplicar as bênçãos e as graças de que era merecedor, Tomás Novelino internou-se, em 1918, no Colégio de Muzambinho (Minas Gerais), preparando-se para o ingresso na Faculdade de Medicina.

De 1919 para 1920, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Praia Vermelha (Rio de Janeiro), tornando-se médico em 1928.

Quase por quase cinco meses, mudou-se para  Ibiraci onde exerceu a Medicina; transferiu-se para Monte Santo de Minas e no carnaval de 1933 mudou-se para a cidade paulista de Franca: aqui foi cirurgião, parteiro e clínico geral.

Em 24 de junho de 1936, Tomás Novelino casou-se com a professora  Maria Aparecida Rebêlo Novelino: foram pais de Eneida Rebêlo Novelino, Icléia Rebêlo Novelino, Alcione Rebêlo Novelino, Cleber Rebêlo Novelino, Climene Rebêlo Novelino e Jesiel Rebêlo Novelino.

Maria Aparecida Rebêlo nasceu na cidade paulista de Cravinhos aos oito dias do mês de maio de 1914 e faleceu aos vinte e nove dias do mês de dezembro de 1990, em Franca (São Paulo).

O casamento de Tomás e Maria Aparecida abriu, definitivamente, as portas para a legítima missão de Tomás: sua esposa e ele mesmo desejavam ter uma escola própria. Quanto a Tomás, este era o chamado revivido do brilho psicopedagógico de Anália Franco e de Eurípedes Barsanulpho.

Em primeiro de agosto de 1944, Tomás e Maria Aparecida deram a luz à Escola Pestalozzi, em Franca: o dinheiro mantenedor da Escola foi gerado na parturição de outro feito – a Fábrica de Calçados Pestalozzi.

A Escola Pestalozzi (Unidade I), já crescida, tornou-se Fundação  em 20 de maio de 1945 e nasceram o Lar Escola, as Unidades II e III, a Fazenda Pestalozzi e o Observatório Astronômico Eurípedes Barsanulfo.

O reconhecimento mundano e internacional da obra de Tomás e Maria Aparecida veio oficialmente em 1996: a Fundação Educandário Pestalozzi foi homenageada na Suíça por ser considerada uma instituição –dentre outras poucas existentes no mundo- que mais se aproximam da ideologia do pedagogo suíço Johann Heinrich  Pestalozzi, mestre de Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec).

No ano de 2001, a Editora Comenius deu publicidade a um livro intitulado Escritos Espíritas: uma militância pedagógica com autoria de Tomás Novelino e Maria Aparecida Rebêlo Novelino. O livro é uma coletânea de artigos escritos pelo casal, entre 1944 e 1979, anteriormente publicados em separado no jornal Nova Era, além de conter um ensaio biográfico por Dora Incontri.

 Finalmente, os luminares da formação pedagógica de Tomás Novelino estão declarados por ele mesmo nestas palavras sintéticas: "Há uma correlação estreitíssima entre os métodos de Pestalozzi, os métodos de dona Anália e os métodos de Eurípedes Barsanulfo. [...] Educar, como dizia Pestalozzi, é o desenvolvimento harmonioso dos poderes anímicos do ser. É a educação integral. Poderes anímicos são poderes do espírito, portanto não é uma educação materialista. A educação de Eurípedes, Anália Franco e Pestalozzi tem cunho espiritualista, com o desenvolvimento integral da criatura. Desenvolvimento da inteligência, educação da vontade e do sentimento. A cultura do sentimento do bem e do amor. Essa era a escola de Pestalozzi, essa era a escola de Anália Franco, essa era a escola de Eurípedes Barsanulfo. [...] Foi nesse ambiente que vivemos, sentimos e formamos a nossa vida. Por isso, temos uma dívida muito grande de gratidão e reconhecimento para com esses preceptores, instrutores, orientadores"...  


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OBRAS CONSULTADAS:

BIGHETO, Alessandro Cesar. Eurípedes Barsanulfo: um educador de vanguarda na Primeira República. Bragança Paulista: Comenius, 2007

INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita: um projeto brasileiro e suas raízes.  Bragança Paulista: Comenius, 2004; p.192

NOVELINO, Tomás; NOVELINO, Maria Aparecida Rebêlo. Escritos Espíritas: uma militância pedagógica. Bragança Paulista: Comenius. 2001

WANTUIL, Zeus. Grandes Espíritas do Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB. 2002

 

 

 

 

Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 19/07/2011
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