MAIS UMA ESCRITA SOBRE OS NOMES... PRÓPRIOS

Segundo a tradição (em minúsculo porque se trata de tradição exclusivamente de cunho pessoal, nem do inconsciente coletivo nem de Tradição-ela mesma- assim mesmo, com T maiúsculo, que cada qual de vocês intua ou pense ou sinta ou creia segundo as estradas ou veredas que melhor lhes aprouver, sobre os significados deste maiúsculo T) quando não havia telefone, nem imprensa ou rádio nem TV nem INTERNET, tempo em que as palavras passavam das bocas para os ouvidos, claras como cristal e havia um centro que todos conheciam, Ana era Ana (ou deveria ter sido), Rubem era Rubem (ou o mesmo, com outro nome), Daniel era Daniel (com sua variante) e ninguém ainda explicitava as dúvidas sobre o próprio nome ou os nomes dos seus duplos.

A memória é um tempo sem saída, um labirinto, e também espelho (Borges já escreveu até à náusea sobre estes, a mim só cabem meras palavras sem nada no bojo). Apesar desses nadas no bojo prossigo, dizendo, em paupérrimo, indigente simulacro, que os nomes a circularem pelos corredores sem fim e sem começos, também vão se deformando ad infinitum.

Os nomes podem ser leis azuis, ou ocres, ou sépia, ou preto e branco, ou não terem cor definível, como certas saudades, como o amor, como algum animal mitológico ainda não pensado. Acima de todas as coisas, me é doloroso saber que o teu sonho, a mim por ti contado com todos os requintes e detalhes, será, para sempre, apenas e tão somente TEU SONHO, inalienavelmente apenas TEU, inacessível aos meus sentidos no seu mais claro e insofismável rosto.

Sou apenas minha e é tão pouco porque, quando teu rosto, num átimo, esteve-me no espelho em lugar do meu, fui mais do que minha, extravasei-me. Isso quando no Mundo havia um Centro e a Memória ainda não havia encarnado.

Republicação, com acréscimos, em 07 de julho de 2011.