Saudação de Rosa Maria de Britto Cosenza para receber um novo membro, Vanderley Caixe, poeta insigne ...

Exmo. Sr. Presidente da A.R.L., Exmas. Autoridades presentes e/ou representadas, caros confrades e confreiras, querido néo-acadêmico, senhoras e senhores.

A A.R.L. abre hoje suas portas para receber um novo membro, Vanderley Caixe, poeta insigne, porta-estandarte da justiça, que, dançando na passarela da vida, abre alas para fazer passar os oprimidos e ganha espaço para fazer valer os direitos humanos.

Já disse o glorioso Charles Chaplin que há homens que lutam algumas horas, outros lutam alguns dias, meses ou anos, mas há os que lutam a vida inteira; esses são imprescindíveis.

Vanderley Caixe é, pois, imprescindível. Filho de Farait Caixe, economista, professor e comerciante, e de Rina Martinelli' Caixe, professora, ambos já falecidos, nasceu em Ribeirão Preto, onde fez seus estudos, desde o curso primário até o superior, começando no 2° Grupo Escolar, passando pela Associação de Ensino, Colégio São Sebastião, Colégio Amaro Cavalcanti, até chegar na Instituição Moura Lacerda para cursar a Faculdade de Ciências Econômicas, de onde foi expulso no segundo ano, em virtude do golpe militar de 1964, por ser, então, presidente do Centro Acadêmico Visconde de Cairú. Ingressou na Faculdade de Direito Laudo de Camargo, da UNAERP, turma de 1969, conforme consta em placa erigida por seus colegas, mesmo tendo sido preso no final daquele ano por lutar contra a ditadura militar, o que o levou a obter seu diploma de bacharel em Direito somente em 1974, depois de ter vivido cinco anos como preso político. "De dentro da cela" surge o lamento

do poeta:

"Impotente na noite quente,

Lutando uma batalha feroz,

Com pulsos (fantasmas e a febre ardente,

Só com a mente

/enfrentando o algoz."

Após sua libertação, foi para o Rio de Janeiro como assessor jurídico da Pastoral Penal e redator do jornal Tribuna da Imprensa; exerceu também a advocacia no escritório do professor Sobral Pinto.

Em janeiro de 1976, Vanderley Caixe chegou a João Pessoa, capital da Paraíba, convidado pelo arcebispo Dom José Maria Pires, o Dom Pelé da Paraíba, para coordenar o primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil. Pioneiro, pois, nessa luta incansável em defesa dos trabalhadores, advogou durante vinte anos para os camponeses e presos políticos da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Persistente,

soube esclarecer e organizar a comunidade, o que lhe rendeu atentados, ameaças e intimidações. O poeta entristecia-se com a perversidade do poder político dos coronéis, mas alegrava-se com as vitórias dos trabalhadores que aprendiam a conquistar seus direitos legais.

o poeta transpira em seus versos: "Acompanhados, os tratores chegaram com a Polícia e a ordem do juiz.

Não ficou casa,

/não ficou planta no chão.

Sua lavoura destruída

E seus trecos debaixo do pé de pau."

A trajetória do poeta é a trajetória do advogado dos oprimidos, da luta por uma sociedade mais justa, em defesa do menor, em defesa da mulher, da liberdade sindical, dos índios, dos pobres e dos indefesos, das prostitutas, dos pescadores, dos presos políticos e do preso comum, contra a tortura, o egoísmo, o abuso do poder; é a luta pela terra, pela vida, pela dignidade do sentimento.

São dele os versos:

"............ Louvo, dos pobres, o levantar mais honroso. /louvo a sua luta por sobreviver:

- aos que não se submetem;

- aos que não esperam vidas que não se repetem, /sofrendo aqui na terra o que o céu prometeu."

Vanderley casou-se com Ayala de Almeida Rocha, advogada e professora, filha de Euzébio Rocha Filho, já falecido, ex-deputado federal, autor de inúmeros projetos de alta relevância nacional, entre eles, o da Comissão de Energia Nuclear e o substitutivo que criou o monopólio estatal do petróleo, a PETROBRÁS. São filhos do casal, Vanderley Caixe Filho e Maria Ana Rocha Caixe, ambos advogados pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

A coerência, a persistência e a coragem de Vanderley Caixe não abalaram sua vida familiar; muito ao contrário, seu idealismo atuante impregnou seu lar e marcou seus descendentes. E mais: inseriu o advogado no processo de redemocratização do Brasil, através de sua participação na luta pela anistia, contra a ditadura, pela Constituinte e através da realização de defesas, cursos e palestras no Brasil e no exterior. Eis sua profissão de

"É preciso sempre, fé:

Fazer da vida uma decisão, Uma pura referência, Uma tomada de posição."

Sua atuação efetiva rendeu-lhe milhares de manifestações de solidariedade e apoio das mais diversas entidades e de distintas personalidades de destaque, não só do Brasil - Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraíba, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Alagoas -, mas também de países estrangeiros, notadamente da França, Suíça, Itália, Holanda, Estados Unidos e Colômbia.

Há inúmeras citações e referências a Vanderley Caixe em livros, artigos, teses, boletins e revistas de várias localidades deste vasto Brasil, destacando-se referências de Augusto Boal, Frei Tito e Frei Betto.

A produção literária de Vanderley Caixe, predominantemente jornalística, começa na década de 60 como diretor de redação de “O Berro”, então jornal universitário de Ribeirão Preto, e passa pelo “Diário de Notícias”, “A Cidade”, “O Diário”, “Jornal do Interior”, Boletim Informativo Cultural do Rotary Club”, Verdade”, revista “Expressão”, “Contexto”, O III Berro”, , também de Ribeirão Preto. “Tribuna da Imprensa e “Jornal de Debates”, “Jornal do Repórter, esses do Rio de Janeiro;Janeiro"O Norte" "O Nordeste" "O Momento" , boletim "Alternativa", "Jornal Unitário" "Correio da Paraíba" "O Correio" "União" "Diário da Borborema" "Jornal Camucim" "Gazeta do Sertão" "Tribuna" todos da Paraíba; “Diário de Pernambuco”, “Em Tempo”, Boletim da Reforma Agrária de São Paulo.

"Em 1999, publica, em Ribeirão Preto, o livro "19 Poemas da Prisão e Um Canto da Terra". Em 2003, participa da Antologia Poética Internacional publicada em São Paulo, pela Editora Scortecci. Em 2004, participa, com crônica e poemas, da antologia "Roda Mundo Roda-Gigante", editada em Itu, Estado de São Paulo, pela Ottoni Editora, e também está presente na "Antologia Internacional V.M.D.", da mesma editora. Em 2005, integra, com vários poemas, a antologia "uniVersos", editada em Barra do Garças, Mato Grosso, pela Gráfica e Editora Ivan, e aparece nas páginas 118 e 119 de "O Conto Brasileiro Hoje. Vários Autores", publicação da Editores RG, de São Paulo. Ainda em 2005, juntamente com esta que agora lhes fala, Rosa Maria de Britto Cosenza, coordena a "Primeira Antologia da Ordem dos Velhos Jornalistas", publicada em Ribeirão Preto, pela Editora "Legis Summa" Ltda., da qual também participa.

Atualmente, vive em Ribeirão Preto, onde assessora juridicamente o MST - Movimento dos Sem Terra - e advoga para presos políticos da América Latina, junto à Comissão e à Corte Internacional de Direitos Humanos. Recebeu o título de Cidadania Emérita, pela Câmara Municipal de Ribeirão Preto, em 21 de junho de 1996; em 15 de agosto do ano 2000, a Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba outorgou-lhe o título de Cidadão Paraibano e concedeu-lhe a Medalha Epitácio Pessoa, pelos relevantes Serviços Jurídicos e em Defesa dos Direitos Humanos. Em 2005, recebeu homenagem da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, por ter sido indicado para o prêmio "Santo Dias".

Pertence ao Rotary Club de Ribeirão Preto - Campos Elíseos. É membro da Ordem dos Velhos Jornalistas, do "Proyecto Cultural SUR”/ Brasil, núcleo de Ribeirão Preto, na área de literatura. Participa da diretoria da Sociedade Legião Brasileira de Civismo e Cultura de Ribeirão Preto, e é conselheiro da Biblioteca Padre Euclides.

Este é o néo-acadêmico que a Academia Ribeirãopretana de Letras hoje recebe. O lutador de sempre, imprescindível, que conserva vivo seu sonho de justiça e que, pela sensibilidade de seus versos, muito bem se define em seu poema "Um Dia... A minha Visão do Futuro":

"Não haverá mais mendigos ou miseráveis a esmolar pela vida,

Não haverá desempregados, nem choros de emprego desolados,

Não haverá fome, nem os roncos da noite de barriga vazia,

Não haverá a mortandade gerada da infecção e da desnutrição,

Não haverá duas pontas na economia, do que chora, do que na,

Não haverá cercas, separando vales e serras,

De um lado o latifúndio e, de outro, milhares sem-terra, Não haverá cadeias para os pobres, nem os ricos culpados, da liberdade gozando,

Nem políticos corruptos, nem polícia, nem leis, nem

juízes das Benesses do poder usufruindo,

E aos pobres massacrando.

No futuro da minha utopia real nenhum país será o dono do mundo,

Não se invadirá outras nações por injustificadas ganâncias ou outras razões.

Não bombardearão crianças, mulheres, pessoas todas, pelas razões do "império".

Haverá um tempo de igualdade,

Um tempo para todos a saciedade, a alegria do trabalho sem exploração,

Para todos a instrução e a escolaridade,

Todos, num tempo só em busca da plena felicidade. Será um dia, o que almejo hoje,

Na minha visão do futuro."

Assim é Vanderley Caixe e nós o saudamos, agradecendo-lhe toda essa poesia.

Obrigada, caro confrade. Seja bem vindo!

Rosa Maria de Britto Cosenza.

Ribeirão Preto, 13 de novembro de 2006.

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 01/12/2006
Código do texto: T306810