MILTON NUNES LOUREIRO - Niterói- RJ
09/06/1923 - 31/01/2011

Retrato: JB Xavier
UBT-Seção São Paulo

JB Xavier

Mílton  foi uma dessas pessoas que deixam suas pegadas bem nítidas na trilha da existência. Seu esforço pessoal, tanto físico quanto financeiro impulsionava e mantinha a UBT Niterói. Gentil, prestativo e esforçado, ele era completamente comprometido com a missão a que se entregou: Divulgar o movimento trovístico tanto quanto possível.
E para isso não poupou esforços. Para se ter idéia de seu preciosismo, talvez tenha sido a UBT Niterói a única a personalizar seus troféus em consonância com o tema dos jogos florais que promovia.
Não é pouco, se considerarmos o acréscimo de custos que isto implica, num universo financeiro já tão dificultoso como o patrocínio da cultura no Brasil  
Por todos os laços que unem a UBT São Paulo à UBT Niterói, o passamento de Milton Loureiro foi um duro golpe para a trova, especialmente para quem privou de sua amizade. Lamentamos este suplemento não ter chegado em tempo de homenageá-lo em vida, mas tudo faremos para manter vivo seu legado de integridade, lealdade e  trabalho, muito trabalho, por décadas, em prol da Trova. A ele, nossa homenagem nas palavras de Pedro Mello:


LOUREIRO
 “SANGUE BOM”


POR PEDRO MELLO
        Lecionei Língua Portuguesa 10 anos na periferia da cidade de São Paulo e nesse meu contato com crianças e adolescentes, acabei tomando contato com várias expressões curiosas. Uma delas foi “sangue bom”. “Sangue bom” é o sujeito gente fina, boa praça, de boa índole ou caráter.
Pois um “sangue bom” que eu conheci nos meus anos de Trova foi o Milton Nunes Loureiro, presidente da UBT de Niterói e grande promotor dos inesquecíveis Jogos Florais de Niterói. Loureiro era Delegado de Polícia aposentado e, entusiasmado pela profissão que tanto amava, trabalhou mais de 40 anos na Polícia do RJ, vindo a aposentar-se apenas aos 70 anos, em decorrência da aposentadoria compulsória dos funcionários públicos. Se não, talvez tivesse ficado até os 80... Quem o conheceu certamente não duvidaria dessa hipótese.
Pois o nosso querido “Doutor Milton”, como era conhecido em Niterói, partiu meio de repente. Já estava adoentado há algum tempo, estava entrando na casa dos 88, mas era um combatente e tanto. Lembro-me de uma vez em que ficamos hospedados em quartos vizinhos numa festa da UBT e ele me contou um bocado de histórias dos seus tempos de Delegado de Polícia. Uma delas, que achei divertidíssima, foi de quando ele ensinou os presos a fazer trovas e organizou um concurso entre eles na cadeia. Disse-me que seus superiores quiseram lhe mover um processo administrativo devido a isso. Achavam uma conduta imprópria para um delegado... nós rimos bastante.
Milton não era apenas um bom contador de “causos”. Era um hercúleo trabalhador da trova, organizando uma das festas mais prestigiadas e concorridas da União Brasileira de Trovadores, os Jogos Florais de Niterói, uma referência para todos nós. Um costume gentil do Milton era colocar no final do livreto o endereço de todos os participantes dos Jogos Florais, o que fazia do livreto uma espécie de “Páginas Amarelas” da Trova. Quando se queria escrever para um trovador de outra cidade, era só conferir o endereço no “livro de Niterói”... E outra coisa boa: ele já colocava o tema do ano seguinte.
Ainda mais: Milton era generoso. Conforme seu orçamento permitia, ele convidava trovadores de quem gostava para ir a Niterói, apenas pelo gosto da confraternização. No final das festividades, generosamente ofertava um almoço a todos os trovadores em seu apartamento e, além do almoço, ainda dava brindes a todos. Era um Amigo da Trova, um verdadeiro Benemérito.
Talvez por tanto trabalho, Milton paradoxalmente não é muito lembrado como trovador. Por uma questão de ética, ele não concorria em Niterói no âmbito estadual. Concorria em outros concursos, mas nem sempre. Ele preferia se dedicar ao soneto. Conheço pelo menos dois, que foram publicados na Antologia do cinquentenário da Casa do Poeta de São Paulo.Mas a gente encontra algumas trovas de Milton Nunes Loureiro premiadas aqui e acolá, sempre muito bonitas.

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Pedro Mello é professor de Português, membro da UBT São Paulo
 e "Magnífico Trovador" por Nova Friburgo desde 2010.
UBT
Enviado por UBT em 28/06/2011
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