*Não se mate ainda

Ernani, se acalme, a Vida

é isso que você está vendo:

hoje beija, amanhã te escarra,

depois de amanhã é domingo

você não vai para a Igreja

e ninguém sabe

Nem precisa saber

nem saberá

se você se matar

mas não se mate

não se mate ainda

Pois é inútil você se resistir

resistir a tua depressão natural

ou mesmo cometer o suicidio

Não se mate ainda, ainda não

reserve-se um pouco para

as bodas que virão

sabe lá Deus quando

ninguém sabe

quando virá,

se é que virá

Ninguém saberá

se você se matar

mas não se mate

não se mate ainda

O amor, Ernani, você telúrico,

a noite zombou de você,

e os recalques se sublimando,

lá dentro aquele barulho casmurro,

rezas,

maldições,

santos que te perseguem

demônios que se persignam,

anúncios falsos da vida verdadeira

Você chorando onde ninguém sabe

de quê, porquê, para quê

nem nunca saberá.

Entretanto você caminha e chora

melancólico e vertical,

pensante e casmurro

você é o grito, é a explosão

que ninguém ouviu no teatro

pois estavam centrados na farsa

na farsa da peça da vida

E as luzes todas se apagaram.

O amor no escuro, o ódio no escuro

é sempre triste, Ernani

mas não diga nada a ninguém,

ninguém sabe, nem saberá

ninguém precisa saber

Ninguém nunca saberá

se você se matar

mas não se mate

não se mate ainda

*baseado no "Não se Mate" do Carlos Drummond de Andrade

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 26/06/2011
Reeditado em 26/06/2011
Código do texto: T3057543
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