Meu Velhinho Querido
Meu velhinho querido, hoje tão debilitado
Pálido e já tão cansado das caminhadas desta vida
Como é bom te ver ainda com um sorriso no rosto
De fontes alvas, como antes dedilhando teu violão
Teu velho amigo de tantas datas
Que contigo cantava teus segredos, teus ensejos e tua lira
Como te lembro presente, desde sempre, desde o passado
Na minha infância, desde o meu nascimento
Me ensinando o jeito certo de caminhar
Das brincadeiras alegres em que me trazias nas costas
Tuas histórias, teus contos e tuas fadas
Em quantas eu sonhando sempre acreditei
Acreditei tanto que também aprendi as contar
A sonhar com teus caprichos como se minhas fossem
Mas é da tua paciência que vem a mais forte lembrança
A ensinar-me ainda em crianças os segredos desde mundo
Os pormenores do estudo desde a criação do Homem
Por Deus o soberano de tudo
Herdei de ti a fé, minha paz e minha luz
E a inspiração para ver sem a razão
A poesia e o mistério que as coisas e as pessoas tem
Minha estrada tem marcada os teus passos
O meu rosto tem alguns de teus traços
E até a clara cor castanha dos olhos teus
Sei que partirá um dia de nossa presença
E se tornar só em grande alma e pura essência
Para se colocar junto de Deus
Guardadrei porém enquanto aqui estiver
Cada segundo deste teu jeito bonachão
O teu sorriso sempre aberto, tua alegria de viver
Sem se ferir com o mal do mundo
O calor do teu colo, o abraço acolhedor
E também o teu gosto pelas coisas boas
Pois sei que um dia vou narrar para meus filhos
Que tive a sorte de em vida conhecer um herói
De muitas histórias incríveis, de muitos jeitos
Um tocador de viola e violão sem igual
Um contador de histórias, um cantados de memórias
Chamado Manuel Tavares
Português de nação, brasileiro de coração
Amante dos bons vinhos, dos doces e da boa comida
Homem de uma só esposa, por mais de sessenta anos
A nossa querida avó Maria (que Deus a Tenha)
Dez filhos, tantos netos, bisnetos e tantos descendentes mais
Grande conhecedor de ervas medicinais
Herança do sangue de sua mãe guarani.
Mas hoje meu velhinho querido
Faço para Deus por ti um pedido
Para que permita-lhe chegar a um século de vida
Se de boa saúde estiver a gozar
Pois o teu alaúde, tão breve não quero velar
Que Ele permita a nós a sorte de mais alguns anos
De tua efusiva presença, da tua crença e tua fé
E a eterna lembrança de tudo de bom que nos causou
_ A tua benção amado avô!