13 DE MAIO - UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
13 DE MAIO – UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
Muito se comemora no dia 13 de maio. Lembro-me ainda dos momentos cívicos quando eu era estudante. Eram tempos de repressão, e assim, ufanismos e vivas eram constantes aos heróis da pátria que bem favoreciam o governo militar em vigor. Tudo era bonito e no 13 de maio, a princesa Isabel vivia seu dia de “padroeira” da liberdade, de “Santa Isabel”. O Estado, na pessoa da princesa era visto como o único libertador, único poder constituído por bondade de libertar os negros do jugo da escravidão.
Basta estudar um pouquinho de história para se perceber enganado por propaganda do Estado. Ele não é o único, aliás, quase nunca está ou esteve presente nos momentos em que a população apresentou avanços democráticos e de liberdade. Chamo aqui de Estado, o poder constituído, seja democraticamente ou não. A ideia do 13 de maio libertador, põe em evidência o poder paternal do Estado, que concede, gratuitamente e por pura bondade humana, a liberdade aos escravos.
Não quero aqui dar uma aula de história, mas a luta dos negros desde o início do processo de escravização ficou de lado. É ignorado. Os suicídios (que causavam prejuízos), os incêndios, as fugas, os quilombos e as inúmeras formas de resistência parecem não contar. O Estado que reprimia deu a liberdade quando quis.
Por outro lado, há os que negam completamente a importância dessa data, como se ela não tivesse significado algum. Quem deu a liberdade foi o negro e sua luta, somente. O 13 de maio não tem significado algum para alguns. Diz-se que a liberdade foi conquistada de uma luta coletiva, mas também cria seus heróis isolados.
Assim, podemos refletir o 13 de maio como uma data sim, a ser comemorada. É de fato o fim legal da escravidão. O que não podemos confundir, é que não é o Estado, na pessoa de Isabel que dá a escravidão. Ele assina a lei, que foi conquistada com o suor, o sangue e a vida de muitos escravos. É também fruto da luta dos abolicionistas e de muitas pessoas da chamada boa sociedade, que não suportavam a escravidão. É ainda, não podemos negar, fruto do capitalismo industrial crescente, que precisava de mercado consumidor e substituía aos poucos, a mão de obra escrava pelo trabalhador explorado (outra forma de escravidão?). Portanto, o dia do fim da escravidão legal, é o auge de um processo, evidentemente liderado pela luta dos escravos. A data é um marco no fim da primeira etapa da luta.
A segunda etapa é a luta posterior. Para os negros, a escravidão não termina no 13 de maio. A busca por um lugar na sociedade era um caminho muito longo a se percorrer. O preconceito da sociedade escravocrata (que apoiaram a escravidão) não permitiu ao negro o ingresso de verdade no mercado de trabalho. A eles foram negadas as oportunidades de dignamente morar com decência, de se alimentar de maneira adequada, e o mais importante, o de ter acesso ao conhecimento científico. Ainda hoje há muito que conquistar. A sociedade tem dado passos significativos na busca de uma igualdade entre as pessoas, e tem refletivo muito sobre as questões chamadas de igualdade racial. Se esse caminho vai nos trazer a sociedade sonhada não sabemos. Apesar de ser um velho chavão, a história dirá.
Fica aqui o debate.