MÃE DE CORAÇÃO

Mãe de coração

“Tia Fátima, era assim que todas as crianças do morro da Peinhinha a chamavam.Foi um dos maiores empregos e o mais demorado de toda a sua vida. Boa parte do seu tempo foi dedicado àquelas criaturas tão carentes, Um povo sofrido de doenças físicas, psicológicas e sobretudo de carência afetiva. Foi assim que ela se envolveu com os moradores daquela favela.

A sua vida de casada foi muito difícil. Casou-se cedo com um colega de classe do colégio, na época ainda cursavam o segundo grau, interrompeu para casar-se, Já trabalhava numa grande empresa de cosmético Depois de um ano, nascera o seu primeiro filho Alfredo, em seguida mais outro,Eduardo. Com cinco anos de casada, o marido os abandonou. Fátima nunca parou de trabalhar, só na licença à maternidade.

Em pouco tempo estava desquitada. Sozinha com os dois filhos, a responsabilidade dobrou, mesmo com uma mísera pensão que para receber, era um custo, sempre atrasava. Para aumentar a renda familiar, teria que se dedicar a fazer um curso, optou pela enfermagem, com ajuda da sua mãe que ficava com os filhos. Com muita dedicação e sacrifício conseguiu formar em auxiliar de enfermagem.

Apesar de todas as dificuldades financeiras, Fátima nunca perdia o seu bom humor. Nunca deixou de levar seus filhos para passear: eram em zoológico, parques, praias. Quantas vezes só com o dinheiro da condução. Lanches? Levava de casa, estourava pipocas, suco natural feito em casa, frutas, bolos e sanduíches para os seus filhos. Lugares pertos levavam já alimentados, ou seja, depois do almoço.

Depois que sua mãe falecera, os meninos, um com dez anos e o outro onze, já se viravam sozinhos, assistidos por sua tia, pois os três moravam numa casa nos fundos do quintal.cedido pela sua irmã,.toda construída com as economias que a Fátima recebera quando saíra da empresa anterior que trabalhara.

Tudo corria normalmente...

Foi quando um fato inesperado e trágico, mudou sua vida por completo. O seu filho Eduardo( Dudu ) de quatorze anos, sofreu uma queda de skate, brincando com o primo, escondeu da mãe, pois a mãe já o tinha proibido de brincar sem capacete. Entre a queda e a morte, durou menos que dois meses. Foi socorrido no PA, mas por negligência médica,de diagnosticar, fazer tomografia, só era medicado como se fosse uma dor de cabeça qualquer.depois de muitas idas e vindas ao hospital, no dia que resolveram fazer tomografia, foi tarde.

Em 16 de dezembro de 1994, falece o menino grande, deixando um vazio enorme na família e na Fátima sua mãe. Ela caiu numa depressão sem tamanha. Angustiada, sofrida sem horizontes a seguir, fizeram uma proposta para ela fazer voluntariado com crianças carentes da favela, ela aceitou e foi assim que aparentemente a cura da dor da perda foi gradativamente sumindo.Depois ela conseguiu emprego no postinho de saúde da favela

Apegou-se tanto as crianças carentes, depois disso, a Fátima renunciou os passeios solitários, toda folga, férias, era a ela para cima e para baixo com uma turminha de crianças, até para o sítio da irmã, os levavam (de ônibus) e longe.

Um dia, compadecida de uma mãe que sem marido, problemas na cabeça, um filho atrás do outro, precisou se internar. Os filhos...Uns foram para um orfanato, um, o Márcio de quatro anos, ela como tinha se apegado a ele, pediu para ficar com ele.O juiz da vara de menores, deu-lhe a tutela provisória Era o seu xodó. Fazia festinha de aniversário, toda família dela o acolhia com carinho, presentes

Porém um dia a mãe melhorou, reclamou o filho de volta. Foi dura a separação. Para Ela continuar próxima ao “filho adotivo”, as duas entraram num acordo, a Fátima batizá-lo, ser sua madrinha. Daí virou a forma de encontro, antes ele ficava durante a semana com a Fátima e fim de semana com a mãe, depois o inverso. Aos poucos eles distanciaram, para mais uma vez, a Fátima sentir a necessidade de amparar um menor carente.

Na ocasião, o seu filho Alfredo já formado na universidade como professor de historia, já casado, pai de um filho, ou seja, deu-lhe um neto, mas morando noutra cidade, só vez em quando eles se encontravam. Fátima continuou com a sua batalha. Até conhecer uma menina adolescente da mesma idade do filho que perdera, quatorze anos, A Luana, órfã de pai e mãe.Antes da mãe morrer a tinha dado para Fátima ser madrinha de batismo.Já acostumada e apegada a madrinha, Luana ficou com a Fátima, o Juiz deu a guarda e com o passar do tempo, agora já aposentada, ela recorreu a adoção. Corajosa esta mulher, adotar uma jovem na época de hoje. Por isso neste dia das mães, rendo a minha homenagem á ela que não só soube ser mãe dos filhos seus,com dedicação, amor e carinho, mas também mãezona dos filhos dos outros.

Dora Duarte

Dora Duarte
Enviado por Dora Duarte em 06/05/2011
Código do texto: T2953782
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