IDU DO ARMAZÉM

I D U DO ARMAZÉM

Antonio de Freitas Soares é o seu nome. Compadre em dose dupla de meus pais. Meu pai é padrinho do João Nelson e ele padrinho de nossa irmã Jane (falecida poucos dias depois de nascida).

O meu primeiro convívio com Idu foi quando vim da fazenda para a cidade. Eu ficava na casa de minha avó, Dona Augusta, para estudar nas Escolas Reunidas “Cônego Lopes”.

- Murilo, dizia a minha avó, vá à venda do Idu e encomenda, para amanhã, 2 kg de entrecosto (como era chamada a costela de porco). Outras vezes era suã, toucinho, lombo, etc. Foi ali, na venda , que eu conheci o Sebastião e o Roque , seus irmãos.

Muitas vezes eu vinha da fazenda, a cavalo, buscar as encomendas de minha mãe. Ela escrevia um bilhete no qual relacionava os produtos, geralmente: farinha de trigo, sal amoníaco, pó Royal, açúcar, etc.

Comecei, naquela época, a ouvir os seus casos. Era um arquivo ambulante da nossa história, folclore, tradições e tudo o mais relacionado à nossa gente.

Morou, uma parte de sua infância na zona rural, “no Baía” (como dizemos ao nos referirmos a algum lugar). Foi nessa época que o Idu tomou raiva de vaca. Eles moravam próximo à fazenda do Manoel Costa, que, mais tarde, passou a pertencer ao meu pai José Carneiro. Acontece, que como disse o Idu, ele tinha, apenas, três pares de roupa: dois para uso durante a semana e um , melhor, para uso aos domingos. Certo dia, sua mãe lavou a sua melhor roupa e pendurou-a na cerca da horta para secar. Não é que , à noite, as vacas do Manoel Costa saíram do pasto e comeram a sua roupa de ir à missa? Desde então, Sô Idu passou a ter raiva de vacas. Delas, não queria saber nem da carne!

São inúmeros os caso do Sô Idu, que além de um excelente contador de estórias, foi um cidadão atuante na nossa cidade:

-O Idu que, “no Baía”, assistiu aos valentões locais desafiarem o lobisomem, que no final das contas era o cachaço (porco) do João Firmino de Moura, fazendeiro da região.

-O Idu que comeu o papagaio que ganhou de presente do seu padrinho João Idelfonso. Quando o seu padrinho veio visitar os compadres e perguntou pelo papagaio, a Dona Maria, sua mãe, teve que inventar uma desculpa para não dizer o que realmente aconteceu.

- O Idu que com o seu irmão Quequé, conseguiu prender um urubu dentro de um boi que havia morrido há vários dias. O urubu conseguiu sair e espalhou sobre os dois irmãos aquela carniça fedorenta...

- O Idu, jogador da U.S.E. que saía de Calambau a cavalo, para jogar em Cipotânea, Rio Espera, Piranga, Senhora de Oliveira, Brás Pires e outras cidades.

- O Idu, presidente da U.S.E.,no início dos anos 60. Em 62, fui seu Diretor Esportivo, e em 63 o sucedi como Presidente.

- O Idu político. Por várias vezes foi Vereador. Muito atuante, foi esteio nas memoráveis campanhas do Partido Social Democrático (PSD) que elegeu por três vezes o Prefeito Antonio Quintão Carneiro.

- O Idu que se iniciou no comércio, ainda novo. Enfrentando os fortes concorrentes do comércio local teve que “arrancar minhoca no asfalto”. Foi em frente e venceu. Junto com ele, também , os seus irmãos Sebastião e Roque que faziam parte de sua equipe. Foi presidente da Associação Comercial local, filiada à Associação Comercial de Viçosa.

- O Idu que quase sempre iniciava uma conversa assim: - Outro dia, eu falei com a Terezinha (sua esposa)... e ,então, discorria sobre o assunto.

- O Idu que merece ter alguém que escreva tudo o que ele foi, seus casos, sua luta, enfim, o seu exemplo de vida.

- O Idu, o amigo de todos e que a todos encantou com o seu jeito de ser.

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Murilo Vidigal Carneiro.

05/12/2006.

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 06/05/2011
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