Minha Mãe

MINHA MÃE

Queria te fazer uma homenagem diferente,

que saísse do lugar comum.

Não queria fazer uma poesia nem lembrar que já

foste tão decantada pelos poetas.

Quem sabe em outro dia.

Não queria lembrar apenas que sonhavas comigo

mesmo antes de conceber-me,

nem que me carregaste durante nove meses

em teu ventre ou que me amamentaste quando

cheguei a este mundo de Deus.

Não queria falar de quantos cuidados tiveste

durante a minha infância:

as primeiras palavras, quando repetias “mamãe” e eu

insistia em dizer “papai”.

Não queria lembrar de quantas madrugadas acordadas

só porque troquei, na minha inocência, tantas noites pelo dia.

E quando já adolescente, achando-me o maior do mundo

e dono do próprio nariz, não dormias enquanto eu não chegava.

Não queria lembrar de como com os olhos cheios d’água

num misto de alegria e tristeza, me viste partir para construir

meu próprio ninho.

Queria te pedir perdão pelas visitas terem se tornado cada vez

mais raras e pelos dias que deixei de telefonar.

Sim, não queria te fazer uma homenagem qualquer, tão usual.

Mas não tenho como esquecer de todas essas coisas.

Queria lembrar das mães viúvas, das abandonadas, das solteiras,

a cuidar sozinhas de seus filhos. Deus as ampara.

Queria lembrar das que perderam seus filhos em guerras

que não declararam, pela violência que não compactuaram,

pelas ideologias que não abraçaram ou mesmo pelas circunstâncias da própria vida. Deus as consola.

Minha mãe, desculpe se não consegui dizer algo diferente como pretendia. Parece-me tão pouco dizer “Te amo”. Mas é essa a minha homenagem.

Queria dizer que não me lembro de ti somente no segundo

domingo de maio, mas em todos os dias e que guardo comigo as lições que ainda hoje me ensinas na tua simplicidade.

Obrigado por tudo. Peço a tua benção ao tempo em que também

suplico que Deus te abençoe já que muitos perderam o costume

tão precioso de pedir para serem pelas mães abençoados.

“Minha mãe já não precisa mais de homenagens. Está sendo homenageada por Deus, nos céus. Fica a homenagem para as que por aqui ainda estão.”

Paulo Salles.