O Último Dia

O último dia, não foi como o primeiro, apesar de toda artificialidade, rito, e da pompa, mas faltava algo... Incomensurável... Romântico... como o fora os dias, todos os que o antecederam, que agora só se abrigaram nas imagens produzidas na memória, e uma ou outra cena capturada ao acaso, a fora isto, tudo se perdeu...

Lembro como se fosse hoje do primeiro dia: _diriam alguns; não sem antes reavaliar o passado... Éramos muitos, desejosos e crentes, depois vieram os dramas e os desentendimentos familiares, como qualquer outra família, Mas os que ficaram mesmo, foram os risos, abraços e aperto de mãos, cedidos gentilmente.

Os nomes listados um a um, aula por aula e ao longo de cinco anos, modificaram-se, alguns desapareceram, porém é bem verdade que alguns outros foram acrescidos, o fato é que ao unirem-se os nomes as suas respectivas faces, ora faltam nomes e sobram faces, ora sobram faces e faltam nomes, o que importa é que no fundo de nós há espaço para todos eles.

Seria eminentemente falha qualquer tentativa de reproduzir um a um, todos que conosco estiveram, foram tantos... Técnicos administrativos, colegas e mestres; particularidades ímpares, alguns mais sérios, outros mais descontraídos, silenciosos, irônicos, repartiram mesmo que inconscientes a diversidade de sua arte de existir, depois se foram, contrariando nosso desejo mais intimo de que permanecessem.

É impossível a este relato não ser pleno de nostalgia, pois retrata memórias, que se contrapõem as próprias vontades particulares; percebe-se o desatar no tempo do ir e o devir, suprimindo numa só partícula muito pequena, o afeto; é impossível deter a marcha dos acontecimentos, e o último dia, é necessariamente um dia de despedidas; despede-se como quem vai a feira ou ao mercado, como quem vai se encontrar mais adiante, é certo que a cada encontro se inflama o desejo de recompor o passado, e com a história de nossas vidas a seguir seu curso, refazemos perspectivas eficazes que se despedirão de nós posteriormente.

Enfim, ficamos sós, numa solidão que emerge em meio a uma multidão, aplausos, risos e luzes; entretanto, ao vestir a ilustre indumentária, veste-se não apenas o cetim, mas a todos, que contribuíram direta e indiretamente para o nosso êxito final, pessoas que muitas vezes permaneceram a sós em casa, outros que suportaram os desgastes das nossas infinitas leituras obrigatórias, e mais outras que tiveram alguma paciência com as dificuldades nossas; a todos que contribuíram como pessoas e a todos que contribuíram como instituições, assim foi nosso ultimo dia.

(Dedico a todos os colegas do curso de Ciencias Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA), especialmente: João Gomes, Deyse, Margarete, Isabel, Moisés, Luiz, João, Rosana, abraços e muitas felicidades.

28Abr2011, Belém-PA

Nelson A. R. Corrêa

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