Bangu Atlético Clube: 107 anos da mais sublime história no futebol brasileiro

Foram 10 anos para que se arrefecessem as reações adversas, normais dentro do ambiente capitalista industrial nascediço no país, não obstante, em 17 de abril de 1904 era fundado o primeiro clube de futebol proletário do Brasil: o Bangu Atlético Clube.

Pioneiro na inserção de operários e negros no futebol brasileiro, o Bangu sofreu fortes pressões dos clubes aristocráticos da cidade do Rio de Janeiro, mas resistiu a todas as forças coercivas.

Exemplo caro de coerção foi a reação da Liga Metropolitana de Sports Athléticos à decisão do clube proletário em manter em seu time os negros Francisco Carregal (atacante), que havia estreado em1905, e Manoel Maia (goleiro), que havia estreado em 1906, proibindo as “pessoas de cor” de serem registradas como atleta amador na entidade.

No dia 2 de maio de 1907 o Bangu recebeu um telegrama da Liga com o seguinte teor: "Comunicamo-vos que a diretoria, em sessão de hoje, 1º de maio de 1907, resolveu, por unanimidade de votos, que não sejam registradas, como atleta amador, as pessoas de cor. Para os fins convenientes, ficou deliberado que todos os clubes filiados se oficiaria nesse sentido a fim de que, ciente desta resolução e de acordo com ela possam proceder.".

Mas o alvi-rubro proletário não se rendeu. Manteve os jogadores negros e abandonou a Liga, só retornando 10 anos depois.

Em 1916, temerosa com o substancial número de jogadores negros no Andaraí e principalmente no Bangu, a Liga Metropolitana urdiu a Lei do Amadorismo, que, preconceituosamente, impedia homens de "profissões inferiores" de participar do Campeonato Carioca. Incluem-se como "inferiores", os operários, os chauffers, os estivadores, entre outros.

Mas a lei reacionária esbarrou na figura do escritor, poeta e orador Noel de Carvalho, na época presidente do Bangu. Seu determinismo impregnado dos mais superiores conceitos de justiça e eqüidade social foi fundamental para que a lei racista não fosse aprovada pelos membros da Liga.

Em um de seus discursos o poeta assim se indignou: "Mas não é uma pretensão abaixo de qualquer crítica o fato de qualificar a Liga Metropolitana de mau elemento o operário a ponto de negar-lhe co-participação nas suas lides esportivas? Será possível que os membros da Metropolitana estejam convencidos de que a moralidade aumentará no seu seio com a exclusão do operário, quando não há um fato sequer, por menos grave que seja, que se tenha passado na sua vida esportiva que provenha dos clubes ora atingidos por essa lei? Será possível que um homem honesto e justo seja qual for a sua posição na sociedade, sinta-se vexado e desonrado em ombrear com outro homem de qualidades idênticas, só pelo fato de ser este operário?".

No início dos anos trinta o Bangu liderou o movimento pelo profissionalismo no futebol carioca. Bangu, América, Fluminense e Vasco resolveram fundar Liga Carioca de Football – LCF, enquanto Botafogo, Flamengo, Bonsucesso e São Cristóvao repudiaram a decisão "em nome dos interesses e das tradições do esporte carioca".

Em 1933 foi disputado o primeiro campeonato carioca patrocinado pela LCF. Participaram 6 clubes (os fundadores mais Flamengo e Bonsucesso, que tinham se rendido aos argumentos do Bangu). Coroando suas lutas, o título foi conquistado de forma inquestinável pelos “mulatinhos rosados”. Depois de ser vice-campão em 1951, 1959, 1964 e 1965, o Bangu voltou a conquistar um título no campeonato, 33 anos depois. Derrotando o Flamengo por 3 x 0 (gols de Ocimar e Aladim no primeiro tempo e Paulo Borges no segundo), em jogo tumultuado assistido por mais de 140 mil espectadores, o alvi-rubro conquistou, também de dorma inquestinável, o seu segundo título de campeão carioca, no dia 18 de dezembro de 1966.

Todo este pioneirismo do clube proletário em defesa do negro e do operário teve seu reconhecimento, tardio mas oportuno. No dia 20 de novembro (dia da consciência negra) de 2001, restabelecendo uma verdade histórica, a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, por iniciativa do Deputado Noel de Carvalho (neto do intelectual e combativo ex-presidente banguense), concedeu ao Bangu Atlético Clube a Medalha Tiradentes “pelo destemor e pioneirismo na luta contra os preconceitos discriminatórios ao atleta negro”.

Nos últimos anos, apesar das grandes equipes formadas na década de 80 (foi vice-campeão carioca e também vice-campeão brasileiro (1985) e campeão da Taça Rio (2º turno do Campeonato carioca (1987) – o Bangu tem amargado insucessos (ficou na segunda divisão do futebol carioca de 2005 a 2008 e não participa nem da 4ª divisão do campeonato brasileiro). Mas para seus verdadeiros torcedores o que vale é o caráter superior que inspirou a fundação e os destinos do clube, que está presente na alma de cada banguense.

Luiz Vila Flor

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Fonte: Livro NÓS É QUE SOMOS BANGUENSES, do pesquisador da história do Bangu Atlético Clube, Carlos Molinari (http://www.bangu.net/informacao/livros/nosequesomosbanguenses/apresentacao.php).

Leia também o Livro ALMANAQUE do BANGU, do mesmo autor (http://www.bangu.net/informacao/livros/almanaquedobangu/apresentacao.php).

A fonte mais completa para se conhecer a história do Bangu Atlético Clube e ficar informado sobre as atualidades do clube é o site BANGU.NET, de Paulo Roberto e Carlos Molinari (http://www.bangu.net)

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Luiz Vila Flor
Enviado por Luiz Vila Flor em 17/04/2011
Reeditado em 17/04/2011
Código do texto: T2914264