MESTRE ZIZA
Heróis da nossa história do futebol
Antecipava as jogadas e compreendia como poucos a dinâmica do futebol. Por isso, passou a ser reverenciado como Mestre Ziza. E, de fato, era um Mestre. Foi o maior jogador do primeiro tricampeonato carioca do Flamengo, de 1942 a 1944. Segundo Nélson Rodrigues, bastava os alto-falantes do Maracanã anunciarem o nome de Zizinho para se saber quem seria o vencedor da partida. Além de muito talentoso, o craque se destacou por sua raça. Em 1946, Zizinho, chegou a jogar, sem saber, mas com dores enormes, duas partidas com a perna quebrada. Para mim, que tive a felicidade de vê-lo jogar muitas vezes, Zizinho foi tão grande quanto o genial Pelé. Aliás, ele foi o ídolo de Pelé na sua infância. Zizinho, com a bola nos pés, nenhum jogador conseguia tomá-la. Perfeito na armação e não perdia pênaltis, tendo jogado até os 41 anos de idade, numa forma exuberante.
Por 11 anos vestindo o Manto Sagrado, Zizinho marcou 145 gols em 318 jogos. Deixou o Rubro-Negro em transação polêmica, em 1950, indo para o Bangu, pouco antes da Copa do Mundo daquele ano, que foi a grande decepção de sua carreira e de todos os brasileiros da época. Porém, mesmo com a derrota diante do Uruguai na final da competição, o Mestre Ziza foi considerado o melhor em campo. Ficou no Bangu até 1957, e de lá foi para o São Paulo, onde ficou por um ano, e depois para o Audax Italiano, do Chile, onde encerrou sua carreira, em 1962.
Thomaz Soares da Silva, o Zizinho, foi um dos maiores craques do futebol brasileiro e mundial. Um certo dia - e depois por muitos e muitos anos -, chegou a ser comparado a Pelé pelo falecido treinador Flávio Costa, o treinador que o lançou no futebol profissional vestindo a camisa do Flamengo. Discordo, Pelé é que tem que ser comparado ao Zizinho. Claro, Pelé foi um gênio da bola, muito acima de Maradona. Penso, por uma questão de justiça, que deveríamos colocar Zizinho e Pelé lado a lado. Os dois no mesmo patamar. A homenagem se justifica pela extrema habilidade com que Ziza tratava a bola. Era arte pura. Era impressionante a elegância como conduzia a bola.
Bom de papo, de samba e de uísque, "Mestre" Ziza, como acabou batizado pela beleza do seu futebol, fez seu primeiro teste no Bangu, em 1938, quando tinha apenas 17 anos e ainda era amador, revelado pelo Carioca de São Gonçalo e depois pelo Byron, também da mesma cidade.
Aprovado com louvor no Bangu Atlético Clube, Zizinho foi chamado na sala do dr. Silveirinha, o dono da Fábrica de Tecidos Bangu. Pensou logo que assinaria contrato, mas qual não foi sua surpresa quando o dr. Silveirinha lhe ofereceu um emprego de operário. "Mestre" Ziza recusou a oferta e saiu-se com essa:
- Ué me chamaram aqui para jogar futebol, fiz o teste, passei e vocês me oferecem um emprego? Vim aqui para parar de trabalhar e vocês querem que eu trabalhe?!!
Zizinho voltou pra Niterói, onde sempre viveu e morou, quando surgiu a proposta para um teste no Flamengo, no gramado do Estádio José Bastos Padilha, na Gávea, recém-inaugurado. Lá saiu ele de Niterói novamente para se apresentar ao técnico Flávio Costa. Trocou de roupa e foi para a beira do gramado crente que ía entrar de saída no treino. Qual nada. Ficou sentado no gramado, na margem do campo, enquanto Leônidas da Silva, o "Diamante Negro" , o "Homem de Borracha" , o maior ídolo do futebol brasileiro da época ao lado de Domingos da Guia, desfilava seu talento inconfundível ao lado de Valido, Caxambu, Gonzalez e Jarbas.
Num lance do treino, Leônidas levou a mão à coxa e pediu para sair. Flávio Costa, com sua voz firme, gritou: "Você não é o rapaz de Niterói?". "Sim, sou eu"- respondeu Ziza. "Então vai e entra no lugar do Leônidas" - ordenou Flávio.
Leônidas era o Pelé da época, o mais paparicado jogador brasileiro depois que inventou a bicicleta na Copa do Mundo de 38. A responsabilidade de Zizinho dobrou, certo? Errado!
Ziza entrou e em apenas 13 minutos de bola correndo, marcou três gols. No primeiro deles, recebeu a bola a 40 metros do gol, passou por três adversários e chutou forte no canto. No segundo driblou até o goleiro. Aprovado na hora por Flávio Costa, foi logo contratado junto ao Byron de Niterói. Sua estréia foi naquele mesmo ano de 39, e a partir de 1940 tornou-se titular absoluto da equipe que em 42, 43 e 44 ganharia o primeiro tricampeonato para o Flamengo. Fiscal de renda aposentado, Zizinho, aos 79 anos, não dispensava uma boa praia na Região Oceânica de Niterói, ia sempre que podia às rodas de samba do Bar Candongueiro, do amigo Hilton, em Pendotiba, e não perdia os desfiles do Bloco do Clube do Samba do amigo e companheiro Rubro-Negro João Nogueira. Morreu com 81 anos de idade.
Zizinho, ou Mestre Ziza, nunca seria jogador de futebol caso dependesse do seu físico. Franzino, ele chegou a ser recusado pelo time do América e acabou jogando um tempo no São Cristóvão antes de chegar ao Flamengo. A grande chance de Zizinho veio com a contusão de Leônidas; o técnico Flávio Costa deu a ele dez minutos para que mostrasse o que sabia. Em pouco tempo, Mestre Ziza convenceu o técnico e acertou com o Flamengo, estreando contra o Independiente, da Argentina. Zizinho tinha garra e habilidade, o que o fez conquistar um grande número de fãs, entre eles, Pelé. Pouco antes da Copa de 50, o ídolo rubro-negro foi vendido para o Bangu e, mesmo perdendo a final para o Uruguai, foi eleito o melhor jogador da Copa. Assim os ingleses que viram Mestre Ziza jogar o definiram: "Não se trata apenas de um craque. Este é um gênio, um homem que possui todas as qualidades que podem ser idealizadas para um profissional chegar mais perto da perfeição."
Fonte: http://amoraoflamengo.vilabol.uol.com.br/ziza.htm, com minhas próprias observações e comentários.
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