HOMENAGEM A NÁ DE CORRENTINA

Faleceu na noite de 8 de abril Arnaldino Cardoso Alves; e quem era mesmo essa pessoa? Certamente a maioria dos correntinenses não ligaria o nome a pessoa; mas Arnaldino era um sujeito feliz, mesmo em sua condição limitada de viver a vida;  era alguém muito especial. Eu não tenho dúvida que um anjo esteve entre nós, provando cada um, em seus próprios sentimentos humanos. Este anjo alegrava as noites de serestas, bailes, encontros sociais, esportivos, religiosos... Ele tinha passa-porte de livre acesso em qualquer casa, evento, ou  lugar, a qualquer hora.

Com seu sorriso meio maroto de eterno menino, caracterisco daqueles que são portadores da síndrome de down, Ná era presença marcante onde quer que estivesse. Seu curto e grosso porreta era o microfone de suas apresentações;  lembrava com seu chicote que apavorava os cães, Ná usava o porreta para se divertir. Horas era o baterista, contra-baixista, ao pé do palco onde passava todo tempo que durava a festa.  Ná partiu para eternidade!

Ná retorna para o lugar de onde veio, certamente pretará contas a Deus, do que viu, viveu, do que sentiu ser cada coração com quem compartilhou sua vida. 

Acabo de sair de sua casa, onde o corpo está sendo velado para o sepultamento que ocorrerá amanhã, 10 de abril.  A rua estava tomada de pessoas comuns e autoridades do município, como dona Adélia e seu filho Hélio Araújo, o ex-prefeito Ezequiel Barbosa, que nos concedeu uma breve entrevista e falaram da importância de Arnaldino, Ná, no contexto da cidade.

Correntina amava esta criança grande e especial para todos, o carinho era mutuo. Muitos queria manifestar seus sentimentos. A pequena e casa humilde não suportou o movimento e a rua encheu de cadeiras onde a noite se fará longa até o dia de amanha, quando sera sepultado o garoto NÁ.

"´-Era uma pessoa querida, religiosa e sempre presente em todos os movimentos que ocorriam na cidade" (Hélio Araújo).
 
"Ná é mais uma vítima do caos da saúde pública que também se instalou aqui em Correntina. A saúde tem sido ineficiente e incapaz de dar alivio aos que dela necessitam. Ná deixa em nós um exemplo de liberdade, de amor, uma criatura que a cidade aprendeu a gostar e ele soube bem se relacinar com todos; Ná será lembrado por um bom tempo no contexto da cidade" Ex-prefeito Ezequiel Barbosa".

"NÁ, era sinônimo de alegria, uma “ FIGURA” Uma grande e eterna criança, assim eu o descifraria.” (Denilson Neves)


"Ná era o cantor, o baterista, o guitarrista, o maestro que regia qualquer som musical que se ouvisse a seu redor, vamos sentir sua ausencia. (João Batista - Periquito).


Síndrome de Down ou Trissomia do cromossoma 21 é um distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo 21 extra total ou parcialmente. Recebe o nome em homenagem a John Langdon Down, médico britânico que descreveu a síndrome em 1862[1]. A sua causa genética foi descoberta em 1958 pelo professor Jérôme Lejeune.[2], que descobriu uma cópia extra do cromossoma 21.[3].

NÁ era portador da síndrome de Down, tinha dificuldades de comunicação apenas para expressar palavras, pois sabia fazer-se entendido. Transformava-se quando estava diante de um conjunto musical, atrás de um trio elétrico. Era um festeiro de varar noite. Pes descalso, por vezes um chinelo de borracha, sem camisa e com seu inseparável porrete que lhe servir por microfone e sem nenhum acanhamento, fazia suas apresentações com mimica de quem cantava ou toca um dos instrumentos do som que se ouvia... Na se divertia, com pouco sorriso e muita candura em seu rosto de eterno menino; era feliz  como ninguém por certo o fora tanto!!!  Quando dava sede em todos aqueles exercícios mirabolantes de tocar, cantar; inclinava a cabeça sobre o peito de alguém que gentilmente lhe retribuía com um refrigerante...Ná não voltava pra casa enquanto a cidade não dormisse o que por vezes não acontecia e ele então voltava pra casa só manhã do dia seguinte.

Extremamente carinhoso com a mãe, que inconsolada nos recebeu em sua casa, com uma grande familia, para falar de NÁ, seus costumes, sua paz! " Ná levantava cedo, quando não passava a noite na rua; saia para buscar pão, e coisas pra dentro de casa, o povo dava de tudo que ele queria... naquela manhã ele bateu a porta, ví que não trazia o pão e seu rosto esta triste, com expressão de dor, perguntei pra ele, que foi meu filho, ele botou as mãos na cabeça, soltando o pedaço de pau com não separa dele, e disse, minha cabeça mãe... minha cabeça... doi... doi... deitou aqui e chorou... seu irmão levou ele pru hospital, o Dotor olhou, passou um remédio pra dor e febre, dispois ele voltou no mesmo dia, aplicaram uma injeção ele voltou, tornou a queixar dor, muita dor e se acabou aqui nesta cama...". 

Sua mãe chorava muita a perda do filho especial, que cuidada dela mais que ela dizia cuidar dele; o carinho era comum a toda familia, a cidade amava NÁ, dava carinho, atenção e era participativa com ele... Fui cercado pela familia, que se posicionou para foto e na expressão de cada um, via-se a tristeza da hora que certamente se estenderia por um longo tempo...

Vai fazer falta, até quando não sei, pois nesta pequena cidade que tinha por habito preservar valores culturais, folcloricos, sociedade... acabou tudo diante de uma nefasta administração caótica, pobre de conhecimento de principios. 




Nos não esquemos nossos queridos excentricos Raposa, Júlio, Dio, Iéié  e não vamos esquecer de NÁ, mas ele  não será o ultimo, mas com certeza estara nesta história como um dos mais queridos, mais participativos, que deixará saudade.



A irma mais velha e os porretes de NA

A cerimonia funebre foi algo inesperado; o povo lotou a Catedral da beira do rio, muitas homenagens, recordando sua vida, seus momentos, sua simplicidade. Na e o sua paixão pelo rio, pelas festas, pela rua, pela noite...


O povo e o ultimo adeus.

Homens em trajes especiais transportaram o esquife e antes de sair da Catedral, deram uma parada frente ao tumulo do Reverendo Monsenhor André, onde ele nunca deixou de frequentar, um domingo siquer, muitos aplausos e um dos sermões que poeta nenhum descreveria melhor, Ná, em quatro tempos, segundo o reverendo. Ná foi recebido na Catedral com a valsa Corretina e no pronunciamento do poeta Flamarion, mais aplausos e a execução da Valsa do Adeus.