VITRAIS E TELAS: UMA CANÇÃO

Para J. Siqueira, meu amigo

As mãos deslizam sobre a tela,

Rio de água límpida fazendo

Afago nas pedras;

E reproduzem a mente:

Passagens vivas pela etérea

Inspiração

Mobilizando idéias e cores

Sons e rumores em confabulações

- ética e estética –

O bom e o belo em uma

Quimera antifonada,

Harmonia perfeita a correr pelos

Campos brancos, planícies e lagos

- e rios caudalosos em perfeita

Navegação;

- arte e sentimento –

E o ungüento amacia a mente

Terra fértil, solo rico ao

Fruto da criação.

Homem e arte, poso sublime

No espelho da cura - mor.

Sobre a tela, as mãos:

Pássaros em vôo acasalador;

Sobre a mente, as mãos:

Celestes bênçãos do criador.

Os dedos céleres fazem fogo

Arrebatador,

Guerra das idéias no quadro

Da existência, afrescos ao ar

Livre.

E livre correm dedos, mão,

Idéias, mente, coração,

Todos em um ritmo só: juntos.

Almas e corpos, luz e escuridão.

Nos vitrais as flores cheiram,

Aroma suave

E os olhos brilham,

Como em um espelho gerador

- o belo e o bom; o opaco e as cores.

As nuvens pairam, beija-flor em

Festa

Pelo mel da estação, e protegem

A cria,

A vida: que canta em profusão.

O dia é hoje, e será sempre

As cores brilham aos olhos,

Estão vivas

E o aroma inebria a lida,

A ida

Aos campos de ceifa celestial.

Pelas mãos de homens Deus fala.

Ah, como é bom poder...

Ao som do verbo que não cala,

De tela e vidro são pintados

Os sonhos

E os olhos dormem

Sob um lume acalentador.

Dor, não há. Calor, a amaciar...

Os olhos e salivar a boca com

O fruto bom.

Vitrais e telas: uma canção de amor.

(poema dedicado ao pintor J. Siqueira, um mestre na arte da pintura, e também compositor).

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 22/03/2011
Reeditado em 22/03/2011
Código do texto: T2863314