UMA HOMENAGEM AO MEU PAI FERNANDO RIBEIRO TÔRRES (IN MEMORIAN)

Lêda Torre

Fernando Ribeiro Tôrres, desde cedo, nascido num povoado perto de Colinas, de nome Maravilha, sul do Maranhão, teve também sua história. Pais lavradores, com uma prole de oito filhos, os seus irmãos, viviam aquela vida simples de interior. Seu pai Mariano e dona Júlia, faziam tudo pelos seus filhos, para que todos se tornassem “alguém’’ um dia, como o garoto Fernando o queria, quando fugiu pela primeira vez, com medo de ir pra roça como seus irmãos. Ele não se agradava muito daquele laboro danado. O menino Fernando nascera em 31 de maio de 1928, no povoado Maravilha, perto de Colinas, sul do médio sertão maranhense, como já fora dito.

Fernando estudou pouco, porque não teve muita oportunidade, e no interior onde nasceu e cresceu não havia escolas, só algumas professoras leigas, deve-se ao fato dele ser pouco alfabetizado. Fernando sabia ler e escrever, e com muita coerência, apesar dos erros de ortografia. Mas como lia tudo que conseguia, o que mais me lembro bem, era do seu gosto e desejo pela leitura. Seus irmãos também foram alguns alfabetizados depois que foram morar num povoado mais adiantado, como se dizia naquela época. Isso, porque a escola mais próxima sempre ficava longe.

Pois bem, o garoto Fernando fugiu de casa a pé, vindo lá pelo Distrito de Buriti Bravo, onde alguns parentes e conhecidos de seus pais, observaram-no por ali, meio desconfiado, cansado, com fome, e alguém tentou entretê-lo por ali, deram-lhe guarida até que avisaram aos pais e depois o enviaram de volta pra casa. Segundo quem conheceu sua história, nos contou que houve uma segunda fuga. Ele tinha a maior vontade de trabalhar em outro serviço que não fosse roça, não era aquilo que ele sonhara um dia. Pelo que mamãe conta dele e quem o conhecia desde bem jovem, sabia que Fernando, meu pai, foi um grande sonhador, sonhava um dia poder ir para uma cidade maior, para estudar e se formar.

Essa cidade almejada era Caxias, aqui no Maranhão, inclusive por que lá era uma cidade portuária, onde o rio Itapecuru que a banha era navegável, e ali fora um dia um centro comercial muito próspero, com usinas de beneficiamento de arroz, fábrica de açúcar, porque naquela região era grande produtora da cana de açúcar, havia também fábrica de óleo extraído do babaçu, fábrica de sabão, e a pecuária era também abundante, além da lavoura, do plantio de arroz. As terras dali sempre foram férteis. Além da farta cultura, a educação bastante ofertante e de boa qualidade. Essa é só um pouco da cidade que Fernando sonhou um dia chegar lá, ainda que fosse a pé,pois de cavalo ou de carros pequenos que por ali existiam e eram os meios de transportes, ele sendo um “fujão”,alguém poderia reconhecê-lo e tentar mais uma vez atrapalhar seus planos de chagar lá em Caxias onde morava um primo dele, tio Enoque Rocha,um grande contador , profissional bastante conhecido na cidade, e lá com certeza, gente boa como o tio era, Fernando com certeza realizaria seus sonhos de ser alguém.

Mas infelizmente não deu certo. Apesar de ele ter fugido pela segunda vez, não conseguiu ir em frente. Teve mesmo que aprender um “ofício”, o de alfaiate, e depois que fez o curso de Corte e Costura com o mestre Urbano Brandão, nunca mais o vôo Marino deu mais nada pro garoto Fernando, ele logo aprendeu a ser um mestre na arte de costurar. Fazia de todo tipo de roupa para homens e calças compridas para mulher, não havia melhor.

Homem de estatura mediana, cabelos negros, lisos, olhos bem grandes, mas muito vivos e brilhantes, feiticeiros, como diz minha mãe; de cor preta, sua tez branca. Sorriso fácil e dentes muito bonitos. Boca bem feita, lembro-me bem das características de meu pai, uma pessoa que muito amamos. Foi-se muito cedo, no auge de seus quarenta e três anos, de um infeliz derrame cerebral, subitamente, o perdemos. Homem, muito inteligente, nunca batia num filho,mas seu olhar de autoridade que pai tinha, bastava dar um olhar daqueles... que estremecíamos até o dedão do pé.

________________São Luis, 19 de março de 2011________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 20/03/2011
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