Homem aberto à busca da Verdade Eterna também vive o amor
Jorge Luis Borges é um dos principais poetas que marcaram a minha vida, dos que falaram à milha alma e acalmaram meu coração nos momentos dos intensos conflitos que surgiram entre os meus profundos sentimentos e as minhas discutíveis razões.
Foi ele que surgiu como meu orientador quando, por volta dos quarenta anos, conheci os mistérios do amor e tive que vivê-los, como homem que descobre a mulher, nas intensas experiências dos encantos e desencantos da maravilhosa e extraordinária paixão.
Seus poemas, suas palavras, seus pensamentos, sua compreensão, foram para a minha alma, naqueles dolorosos instantes, o ponto sólido de apoio na imensidão da estrada das indecisões, composta do asfalto de areias movediças que surgiam à minha frente, nascidas das fontes dos meus temores, raízes das minhas próprias limitações.
Se não foi ele para mim um farol na escuridão, nascida das dúvidas que preenchiam minha mente e estremeciam meu corpo que se via preso na solidão, pelo simples medo de encarar a força da paixão, pode bem ter sido a fonte clara que resplandeceu na minha imaginação e trouxe paz ao meu imaturo coração.
Foram suas palavras, em formas de rimas, que - sutilmente - me ofereceram o doce brilho iluminante da aceitação do amor, para que minha alma, no doloroso enfrentamento da vivência que exigia decisão, rumasse forte para os braços suaves daquela a qual a vida elegeu minha divina companheira, em nossas presentes encarnações.
Homem aberto à busca da Verdade Eterna, que perdeu sua visão física em certa fase da vida e conquistou efetivamente, para o seu espírito, olhos capazes de contemplar o Sublime e descortinar os mistérios do amor, Luis Borges recebeu as bênçãos da Verdadeira Tradição dos antigos fenícios, caldeus, gregos e cristãos, se fazendo neste mundo um verdadeiro iluminado e digno da iniciação.
Como buscador, filosofo incógnito na via da solitária peregrinação que liga o homem ao Princípio Criador, comungou com as Esferas Divinas e, mesmo cego de corpo, mergulhou na arte eterna da luz que faz poetas e cegos enxergarem com o coração.
E, assim, fez - como poeta, escritor e livre pensador - ecoar na terra palavras de profundas inspirações, que mostram sempre, em forma de luz, a verdade para os mais simples e puros de intenções.
Portanto, me curvo diante do mestre Borges, na doce lembrança das suas eloqüentes observações, que tocam diretamente a alma de cada um de nós. E ouso, mesmo, dividir parte do presente recebido, naqueles meus momentos de intensas dores, mas que continua a alimentar minha suave inspiração.
Dar meu testemunho, confirmar minha paixão, é um imenso prazer que me torna, ainda mais, rico da profunda e extraordinária gratidão, que estimula as asas da minha própria imaginação e faz de mim, também, um doador de palavras, quase um produtor de orações.
Oh, mestre!... Se cantor fosse, a ti entoaria, neste e em outros momentos, um simples hino, mas de profundo louvor com toda a força da minha emoção que, ao conhecê-lo, se fez compreender pela minha razão e, assim, encontrou morada efetiva em meu coração.
Carinhosamente;
José Paulo Ferrari – calmo inverno de 2010