PARA JOSÉ GARCIA COSTA, AMIGO, PELO SEU ANIVERSÁRIO

Saber que você existe e que existe, amigo, na minha vida, quase desde que me entendo por gente, tem servido sempre como um dos poucos sinais de que eu realmente existo, de que eu sou mesmo real, e sei que o mesmo se passa com você. Só estes dois fatos já configuram uma espécie de milagre.

Ultrapassamos limites de muitos mundos para que a amizade permanecesse e isso nos é consolo infinito em tempos quase só de naufrágios em ambas as nossas vidas: naufrágios de certezas, naufrágio de esperanças, golpes do Destino, auto decepções, perdas de vária natureza...

É raro, Amigo, o que construímos. Penso que já nada poderá abalar as bases do edifício construído.

Venho aqui para mais uma vez saudá-lo, pelo seu aniversário. Passou-se mais um ano e estamos ficando velhos, ou melhor, como dizem os politicamente corretos, estamos próximos da chamada melhor idade. De todo modo, ainda reconheço, em seu olhar, o jovenzinho que me saudou pela primeira vez quando eu também era uma quase menina, e éramos plenos de sonhos e de esperanças de futuro.

Quase tudo com o que sonhamos foi se perdendo e se perdeu, não há como negá-lo, enquanto nossa amizade, pelo contrário, foi se fazendo cada vez mais forte, solidária, verdadeira, cada vez mais diversa do que se tornam, costumeiramente, os relacionamentos.

A marca da nossa amizade, seu signo de distinção, é a ausência de máscaras, no teu e no meu rosto. Podemos olhar sempre um para o outro de rosto limpo, e isto constitui, em um mundo como este, o milagre mais fundo de todos.

Escrito na noite de 28 de fevereiro de 2011.