Izabel
Izabel
Minha grande amiga, Iza, dos tempos da juventude. Ainda não me conformo com sua morte e muito menos com sua doença, motivo da morte.
Éramos muito amigas, trocando segredinhos, falando dos namoricos, sempre presentes nas festinhas sadias e agradáveis dos anos 60. Não bebíamos alcool, apenas uma taçinha de champanhe ou um copo preparado com wodca, gelo e crush, um refrigerante tipo fanta laranja, para alegrarmos um pouco. Escutávamos música, dançávamos, flertávamos, tudo dentro de uma linha que hoje seria encarada como festa chata, monótona e careta. Mas para nós era o máximo. Eram tempos em que os pais eram rígidos e tínhamos horário de retorno. As festas começavam pelas 20:00 horas e a 1:00hora tínhamos que estar em casa. Acho que era por isso que valorizávamos cada minuto da festa além de um valor fora do comum para os dias de hoje, era o encontro que tínhamos com pessoas fora do nosso círculo familiar. Conhecíamos moças e rapazes, trocávamos idéias sobre leituras, furos jornalísticos, artes e artesanatos, música.... Havia grandes papos sobre assuntos diversos. Tínhamos que estar por dentro das diversidades para segurar uma boa conversa com a pessoa com quem a gente se sentia bem ou que fosse alguém que exercia certa atração.
Eu e minha amiga Iza fazíamos isso juntas nos finais de semana, quando podíamos. Quer dizer, quando papai e mamãe deixavam. Mais tarde a Iza encontrou sua cara metade, casou e teve filhos. Eu também, casei e tive filhos e nossa amizade foi ficando em 2°, 3°, 4°... plano, porque tínhamos outros cuidados, responsabilidades e rumos. Só quando os filhos estavam crescidos é que vez por outra saíamos para tomar um café e colocar os assuntos em dia. Mas tudo sempre muito rápido, porque não havia muito tempo para ausência do lar. Ficamos sem comunicação por muitos anos, quando numa ocasião minha irmã Lena, se encontrou com a Iza num retiro de uma semana em S.Bento do Sul.
Passaram-se mais seis anos, sem grandes comunicações. Um alô rápido, um oi apressado... e então teve outro retiro, com a mesma duração e na mesma cidade. Convidei-a para participar, ligando para sua casa e disse que eu só iria caso ela fosse. Para passarmos uma semana juntas, poder conversar, saber como estava tudo com a família de cada uma de nós. Ela pediu uns dias para pensar. Passou-se mais de uma semana e nada dela ligar. Achei que ela não queria ir e ficaria por isso mesmo. No 9° dia ela liga e qual não foi minha decepção. Pediu desculpas e disse: “não estou mais saindo muito. Fico em casa onde me sinto melhor. Então não irei ao retiro”. Também não fui.
E não falamos mais. Um mês e meio depois, veio a notícia de seu falecimento. Me ligaram às 14:00h, na mesma hora de seu sepultamento. Fiquei tão chocada, pois não sabia de sua doença. Ela nunca comentou nada, nunca se queixou e estava sempre sorrindo e alegre, que eu nem desconfiava que ela pudesse estar com câncer. Sinto saudades, remorsos por não ter compreendido sua negativa para participarmos do retiro. Estava muito focada em mim mesma, achando que ela não queria mais papo comigo e no entanto, ela certamente, estava em fase terminal de vida. Apesar da pouca aproximação nos últimos anos, a gente sabia onde e como se encontrar quando quisesse. Agora não mais. Não a verei mais neste mesmo patamar. Ela está num lugar totalmente desconhecido para mim. Meu coração ainda chora.
Que Deus a tenha acolhido.