HINO AO BRASIL I
XI Cantos
Ode à nossa Cunhã - Primeira Mulher Brasileira
(Som de Flauta Aruáke – Guaraní: Jaguar 00:45”)
I
O bardo - trovador do mundo, que há em mim, canta:
- Meu povo,
Uma história do antigamente, vou contar
Tão-somente,
tudo começou lá no Nordeste, sábi?!
Por ordem de Cabral
na resposta à flauta Guarani
uma Galega gaita-de-foles, impera
mais durona ali
que berrante em Cuiabá, Mato Grosso
…soando…imperadona…
(Som de Gaita-de-foles Galega: Boneco de Palla 20”)
II
Na Bahia do paraíso sem Santo nem Salvador,
em Porto Seguro
Inseguro para o vizinho Tapuyá (inimigo) do tupiNambá
(como assim?)
Hans Staden, o alemão, sabia
do tempo de Ubatuba
sem Santos nem Porto (só pecadores)
perguntem, perguntem, também
aos Caeté de Alagoas
o que não fizeram ao bispo de Setúbal
Dom Pêro Fernandes Sardinha
em 1500 e 56 de tantos de tal…
(Flauta Aruáke – Guaraní: Boliviamanita 00:30”)
III
Lá onde o ferro e o fogo
(espantando papagaio)
A cruz e a espada
Bandeirante
no barro espetada
(sem espírito nem pai-de-santo)
Cabral (na) mente
Traição na Paraíba
moldando Cabrália, Nação
do Recife, Pernambuco, ao Maranhão
sem menino de Belém, nem Pará, de Manaus ao Acre
Perdido no Peru e Bolívia
Ameríndio Aruáke…
(…Aruáke – Guaraní: Amazonas 00:40”)
IV
Da Amazónia
Telúrico perfume espalhando
cheiro de cajueiro no cangote da Cunhã
Pororoca do rio e maresia
Espumando nas coxas da irmã
Batendo no seu contraforte
o maior império colonial, forjado
da Galegona gaita-de-foles
(Atrás-dos-Montes sem rio Minho)
amancebando na ingenuidade Guarani
Aos acordes da flauta de pã - sem Tu,
nem noz (moscada da Índia) …
(…Aruáke – Guaraní: Rosa 00:64”)
V
A latinidade pegando no laço
a nudez vermelha
da Cunhã-Mulher desejada
do pau-brasil esculpida
freneticamente iniciada
no forró-erótico lusitano
“For all”
(ainda sem inglês, nem francês e holandês)
O negão vergado sob o arnês
Na marra do português
Se mescla o engenho ibérico
Suportado pela africana robustez…
(…Aruáke – Guaraní: Malakum Wa-wala 00:60”)
VI
Revoltado Quilombola
N’Ganga N’Zambie Angolano
(Curandeiro de Deus)
Escravo auto-libertado na fuga
Afilhado mancebão
da Cunhã-Índia
Cheia de dó e tesão
Na boca e no amasso
Amazónica madrinha Tapajó
Cafuza brasileira gestação
Guaicuru e Yanomami
No estômago e no muxima - coração
Na rede e na esteira Congos e Angolas
“Tukum-bó Tupána-guá-ká Kamba'í”
(Homem Negro, Bênção de Deus Guarani) …
Glossário conceitos tupiGuarani: Tukum=palmeira / bó=pó / Tupána=Deus / guá=palmito-talo / ká=quebrar/ kamba=moreno-negro (í =ênfase espírito do rio?!)
…outros despôs mais…
(…Aruáke – Guaraní: Compañero 00:16”)
VII
da esquina de Porto Seguro (abaixo)
S. Paulo de Piratininga do Guayaná
Pederneiras
Cabo Frio dos Tamoio, à ilha de S. Vicente
(não a de Cabo Verde mais a poente)
Mas em Terras de Santa (Vera) Cruz solo alheio
plantando bandeiras da Coroa azul - branca
(cravadas no Guarani, Potyguara e noutros Tupinikim, aliados) …
(…Aruáke – Guaraní: Es para ti 00:47”)
VIII
Piratininga a Goiás
(via Campinas)
Diabos - Anhangúera- espírito antigo
Acontecendo na Cunhã-Mulher
Uma inventada nação
de cunhados e cunhadismos
cor de café-com-leite, açúcar e feijão,
ouro e diamante Mineirim,
Mandioca na mão
ao som da guitarra Sevilhana
(de outros fados)
dos “Buenos e do malos” dos Bartolomeu
dançando modinha e lundum
saracoteio dengoso da sinhá-dona (já crioula)
atabaques no bum-bum
na composição do regabofe do Malhão-Malhão
Pizza napolitana e kebab libanês, churrasquinho e chimarrão
Despôs…
Num tempo muito mais despôs e Nu…
(…Aruáke – Guaraní: Fiebre y Saya 00:39”)
IX
Bairro da Liberdade de S. Paulo
Marília (japonesa) a tal
sem Dirceu nem Gonzaga, exilado em Moçambique (ilha)
(tempo do Marquês de Pombal)
D’outras Marílias já ”caboclas”
Cunhãs-Índias de olhos verdes
Netas de Tupã desconfiado
Casando com Sushís netos de Hai-kai
Na ermida de Nossa Senhora da Aparecida
Festança, no nipo - paulistano Clube XV (15)
da esquina de Jahu a Piracicaba…
(Jazz: Tea for Two – Duke Ellington 03:35”)
X
História inacabada
Suando ao som da bossa-nova
Desafinado no compasso do calor
se esquecendo lá no Morumbí
mesmo fugindo do samba -crioulo do bem-ti-ví
do Carí-Óca fluminense
caiem na batida do Jazz balada
do tal do Franco Sinatra e Stan Getz
de outros Maracatús afro-americanos
de Virgínia ao Mississípi
dos Cotton Fields (campos de algodão)
sem Blues nem Leadbelly
Work Songs entoando (canções de trabalho no chão) …
(…Aruáke – Guaraní: Cuando Floresca 00:52”)
XI
Do céu Paulista ecoam
Gritos de Ipiranga do interior
Louvando fumos industriais
de fuligem e ciscos de cana queimada
De Ordem e Progresso
Do Cruzeiro do Sul (Verde e amarelo)
Coroando de estrelas, Nossa Senhora, Cunhã-Mulher
Primeira Mãe-do-Brasil resgatada
sem bumba nem boi, só mesmo Mulher cabra-macho
pra sobreviver no machismo brasileiro!
SARAVÁ!
Original de João Craveirinha (Kraveirinya©)
Lisboa - Madrugadas de 18 Maio 2010 (03h:00) – 19 Maio (01h:15) – 24 Maio (07h:15) - 26 Maio 2010 (3h:00) a 27 Maio 2010 (09h51). Revisão final: 29 Maio 2010 (03h:32)
Efeito musical: Banda Ameríndia Kala-Marka dos Andes ao Amazonas (Aruáke – Guarani):
Canto I (início): Jaguar 00:45”
Canto II: Boneco de Palla - Gaita-de-foles galega 15”
Canto III: Boliviamanita 00:30” - Canto IV: Amazonas 00:40”
Canto V: Rosa 00:64” - Canto VI: Malakum Wa-wala 00:60”
Canto VII: Compañero 00:16”
Canto VIII: Es para ti 00:47”
Canto IX: Fiebre y Saya 00:39”
Canto X: Tea for Two –Duke Ellington 03:35”
Canto XI: Cuando Floresca 00:52”
Original de João Craveirinha (Kraveirinya©)