PROFESSOR JOÃO COSTA

Nem foi necessário o tradicional minuto de silêncio, pois a minha alma quedou muda quando o Presidente da Academia Sergipana de Letras se referiu ao falecimento do Professor João Costa. Senti como se algo morresse em mim também. Revivi tantas cenas da juventude, todas juntas, voando como um bando de andorinhas. E neste texto direi das recordações desse que era o mais celebrado de todos os professores de língua portuguesa do Estado de Sergipe.

Basta alguém dizer que foi aluno de João Costa para ser considerado algo sagrado. Haver passado por este professor vale mais que um vasto currículo com todos os títulos de cursos de pós-graduação. Era do tipo de mestre para quem o simples fato de se olhar para ele já garantia a aprendizagem. Até se nem prestássemos atenção na aula. Não prestar atenção a João Costa era algo impensável, impossível.

Eu tinha apenas 14 anos de idade quando estudava o curso ginasial e entrou pela porta da sala de aula um belo homem cujos olhos de intenso azul acinzentado inundaram o ambiente. Havia só moças e suspiros. E o professor falando francês com uma voz inesquecível. A Voz, como o disseram sobre o cantor Frank Sinatra. A fama do rapaz já corria por toda a escola e logo soube que era conhecido por Tony Curtis. Realmente se poderia mesmo dizer que era o sósia do grande ator.

Belo e inteligente, além do que, cantava e encenava. Sua aula parecia mais um espetáculo de dramaturgia. Aprendemos a cantar a Marselhesa. E penetramos pelo charme incontestável da língua irmã, a de Paris. Muitas alunas se apaixonaram por João Costa, aquele amor tão bonito e natural de alunas por professores. Eu também, só que a minha paixão pelo professor veio a se manifestar quando fazia o Curso de Letras. Quanto mais olhava aquele homem, mais o mito se personificava.

Exigente, brincalhão e, ao mesmo tempo, forte e marcante. A figura mais marcante de todos os meus anos de estudante. Lá ia João Costa pelos recantos da Gramática Normativa, pelas eras da língua na Gramática Histórica e pelos fascinantes estudos de Fonética e de Fonologia. No final do curso foi ele quem nos preparou para o exercício do magistério da língua pátria, ministrando aulas da disciplina Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa.

Eu e outra colega nos postávamos nas cadeiras da primeira fila e, perdidamente apaixonadas pelo professor, o dividíamos e só dele falávamos. O ambiente das letras, da literatura e, principalmente, a aura do Romantismo, tanto na Europa quanto no Brasil, tudo nos permitia. Declaramos amor a João Costa.

João casou, teve filhos e nós o amávamos mesmo assim, porque amávamos o ídolo, o mito, a figura daquele homem culto e formidável. Os ex-alunos dele sabem que a segurança e a coragem para enfrentar o ensino da Língua Portuguesa e da Língua Francesa (para aqueles que se graduaram nesse idioma) começaram e se fundaram na sapiência do professor cuja presença física nos deixou de vez no dia 30 de janeiro de 2011.

Entretanto, ele está em cada palavra que escrevemos e dizemos. Ele jamais sairá do nosso DNA de professores, seus colegas.

Toda a saudade de você, querido João Costa.

taniameneses
Enviado por taniameneses em 01/02/2011
Reeditado em 02/02/2011
Código do texto: T2766104
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