Nosso Coração - Tributo a Luis Fernando Veríssimo

“O que seria de nós, se nosso coração não se mostrasse egoísta, importando tão somente com sua sobrevivência”?

ou de outra forma:

“se se descuidasse de sua saúde e enveredasse de corpo e alma pelos nossos sentimentos, a ponto de chegar até seu time" rs,rs,rs?

Tributo a Luis Fernando Veríssimo


"Meu Coração"
No fim, desculpe a literatura, é tudo entre nós e o nosso coração. Depois do dito e do feito, depois da paixão e da razão, depois da vida das células e da vida social, e da vida cívica e das idas e das voltas e da História e da biografia, e do que os outros fizeram conosco e nós fizemos com os outros, é tudo entre nós e ele. Segundos fora. Nós e ele. A única conversa que valhe, a única intimidade que conta.
O coração não tem nada a ver com nada, fora a sístole e a diástole e a sua fisiologia medíocre. Ele nem nos daria conversa, se não dependesse de nós, se não precisasse da embalagem, dos terminais e de alguém que cuide dele. Tudo que lhe atribuem, do mais romântico ao mais calhorda, é falso. Trata-se de um mero músculo, e de um músculo egoísta, que só quer saber de sua própria sobrevivência. Da qual, por uma cruel coincidência, depende a nossa.
Fala-se do “time do coração”. Mentira. O coração não tem time. O coração não se interessa por futebol. Só hoje, por exemplo, o meu se deu conta de onde estava. Paris, Nantes, Marselha ou qualquer outra cidade, é tudo o mesmo para ele, desde que ele tenha um lugar seguro onde possa bater e cuidar da sua vidinha.

de Luis Fernado Veríssimo
do livro “A Eterna Privação do Zagueiro Absoluto”




Afonso Rego
Enviado por Afonso Rego em 29/01/2011
Reeditado em 08/04/2012
Código do texto: T2760350
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