Vovô Joãozinho

     Lembro-me com saudade de meu avô João, caminhando por entre a plantação... sua calma , seu jeito meigo e compreensivo que só as pessoas que vivem em paz consigo mesmas é que podem ter.
     Seus cabelos grisalhos, quase sempre cobertos pelo velho chapéu de palha, o rosto sereno e os olhos expressivos, o nariz afinado; o bigode espesso e a boca pequena, a pele era queimada de sol, denunciando toda uma vida de trabalho árduo no campo. Seus ombros eram largos, os braços fortes e as mãos calejadas, típicas de um lavrador. Suas roupas e botinas eram surradas e gastas, mas aos domingos eram substituídas por umas novas, pois era dia de ir até a cidade assistir à missa. 
     Eu sempre achei curioso, algo que presenciei várias vezes quando ia com ele à cidade: vovô caminhava pela estrada empoeirada descalço por dez km, quando se aproximava da cidade, havia um riachinho onde ele lavava os pés e calçava as botinas novas, rindo ele me olhava e dizia:” ô fia isso é pá num gastá as butina”

     A sua aparência não o diferenciava dos seus contemporâneos que viviam e trabalhavam na roça como ele, mas a maneira que ele enxergava o mundo e agia com o seu semelhante, deixou-me a certeza de que ele partiu para a outra vida que ele acreditava piamente existir levando consigo a serenidade de quem cumpre a tarefa que lhe foi destinada aqui na terra.

 
Maria Mineira
Enviado por Maria Mineira em 27/01/2011
Reeditado em 04/08/2012
Código do texto: T2755900
Classificação de conteúdo: seguro