Ao maior ídolo que já tive: MEU PAI !

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"Naquela mesa está faltando ELE....."

Nunca concordei com as homenagens póstumas. Pelo contrário, cheguei até a criticar algumas que assisti. Eu pensava, de uma forma simplista, que as pessoas deveriam ser homenageadas, sem exceção, enquanto vivas fossem. Assim, quando alguma personalidade mundial ou algum ídolo nacional falecia, vinha logo à minha cabeça : "Porque ele não foi homenageado enquanto estava vivo?!", ou, "Brasileiro só lembra de seus ídolos depois que eles morrem !", e também, "Agora que morreu, todo mundo faz homenagem e diz que gostava dele!"

Ora, quem nunca disse ou ouviu uma frase como estas ?!

O que dizer então quando a pessoa que se vai é um ente querido ou um parente próximo, que participou de nossas vidas, contribuiu com a formação de nosso caráter e colaborou com nossas realizações pessoais e profissionais ?! Uma homenagem póstuma, nestes casos, pode conotar frieza, interesse ou falsidade - por parte de quem a presta -, e inspirar ceticismo ou indignação - naqueles que a ela assistem.

As frases acima, com relação aos tributos feitos às personalidades nacionais e internacionais que se foram, já as pronunciei.

Os sentimentos acima, com relação às póstumas homenagens a entes queridos, familiares e todos que foram importantes em minha vida, já os experimentei.

Hoje me envergonho de ter dito aquelas frases e experimentado aquelas sensações. Não culparei a então imaturidade de minha juventude ou a pouca experiência de vida quando assim me portei. Apenas peço perdão àqueles que desrespeitei ao criticar suas lembranças, pois aprendi a valorizar qualquer tipo de homenagem - seja póstuma ou não - feita àquelas pessoas que nos foram especiais.

Aprendi também que cada um, após perder um ente querido, tem seu próprio tempo de sentir a dor da perda, de aceitá-la, de sofrer sua realidade e então gozar as lembranças de alegrias e tristezas vividas com quem se foi. E quando a nós é chegado este tempo, concluimos que os momentos passados com aquela pessoa permanecem intactos em nossas memórias, trazendo-lhes, o passar dos anos, coloridas e agradáveis emoções para uns ou uma cinzenta e triste melancolia para outros. Cabe somente a nós darmos os contornos àquelas lembranças, escolhendo as cores que preencherão o espaço deixado por aquela pessoa em nossos corações.

Com a perda de meu PAI, cheguei à conclusão de que uma homenagem àquelas pessoas que faleceram, desde o mais simples "eu te amo" - que não foi dito -, até o mais pomposo cerimonial - que não foi realizado -, pode ter sido adiada por um momentâneo afastamento, sentimental ou físico, para uma data incompatível com a agenda do destino.

Então, passei a entender a homenagem póstuma como uma maneira de reparar uma injustiça que cometemos com nossos ausentes amados.

Injustiça na medida em que, por um lapso de nossas virtudes, permitimo-nos - acometidos de raiva, egoísmo, inveja, orgulho ou vaidade - ferir com atitudes ou palavras os que se foram. Ou quando por um lapso de comodismo, também injusto, calamos palavras ou omitimos gestos de carinho - que foram retidos pela mágoa ou pela vergonha - e não demonstramos a quem amavámos o quanto eles eram importantes para nós. E como as palavras e as atitudes - tanto as pronunciadas e expressadas, quanto àquelas silenciadas ou omitidas - não voltam atrás, acabamos por esquecer de nos desculparmos, de nos reconciliamos ou de dizer aquele simples "eu te amo" a tempo.

Ah ! Quantas homenagens não teriamos prestado em vida a quem amávamos se não as adiassemos ?! E quantas outras "homenagens" deixamos de prestar por orgulho ou mágoa ?!

Que corrijamos estes “lapsos” fazendo HOJE, desprendido de ressentimentos e orgulho, homenagens a quem vivo encontra-se ao nosso lado. Mas também não nos esqueçamos de homenagear, de maneira póstuma, àqueles entes queridos que não mais aqui estão. Assim, quem sabe, a ferida aberta em nossos corações por termos magoados quem se foi cicatrizar-se-á, dando a cinzenta mágoa que ali estava lugar a uma colorida lembrança de quem tanto amamos.