PARA MARTA, CHEIO DE ALEGRIA
Há coisas em nossa infância e adolescência que jamais esquecemos; pode ser o primeiro tudo, porque tudo que nos chega pela primeira vez é inusitado e raramente esquecemos. Muitos dizem que não esqueceram a primeira relação amorosa, outros o primeiro amor.
Desde que eu saí para ganhar o mundo e deixei minha terra natal, acabei deixando também muitas lembranças de uma época onde não havia muito acesso a comunicação, onde as velhas cartas dos correios eram os elos de uma paquera ou a manutenção dele; uma época onde internet era coisa apenas dos filmes futuristas.
Quando morei em Salvador conheci Maria Marta dos Santos, uma colega de escola (GIDAM) que morava num bairro distante e pouco conhecido de muitos baianos (Castelo Branco). Nesta época eu estava descobrindo os encantos das primeiras paixões e o clima, muito embora em épocas de ditadura militar, predominava o romantismo. Marta era um pouco mais velha e estudava em outra classe que não era a minha. No início eu apenas olhava para ela e sabia que jamais ficaríamos juntos, porque era comum que as garotas mais velhas gostarem de garotos mais velhos; mas o desejo infante de um dia beijá-la ficou comigo por anos.
Quis o destino que minha família mudasse de Salvador para o interior e nas poucas semanas que me restaram depois que eu soube da mudança, eu finalmente me aproximei de Marta e juntos, fizemos uma amizade; depois, algum tempo depois, finalmente chegou o dia em que eu ganhei seu primeiro e inesquecível beijo. Foi como sinos estivessem soando do alto de uma catedral ou como se borboletas coloridas estivessem voando entre nós.
Mesmo adolescente e morando no interior, eu sempre dei um jeito de voltar a Salvador e de estar com ela. O tempo passou e quando eu consegui localizá-la novamente, da última vez que eu a vi, o que já faz mais de 15 anos, ela estava morando num lugar muito humilde. Aquela visão era pra mim algo terrível e depois disso, mais uma vez eu jamais voltei a vê-la!
Sei que pelo caráter daquela moça, ela deve estar casada e se Deus for-lhe tão fiel quanto ela era para ele, com certeza sua vida deve ter mudado para melhor!
Quando ainda nos víamos como adolescentes apaixonados eu ouvia Stevie Wonder e suas músicas marcaram alguns de nossos momentos. Busquei uma adaptação em “Overjoyed” para homenagear Maria Marta dos Santos, a moça de Castelo Branco que estudou no GIDAM e que morou na Rua São Francisco Xavier na Brasil Gás. Quem sabe alguém possa me dar boas notícias dela, pois na internet, com tantas informações, podemos tudo!
Para Marta, Cheio de Alegria!
Por um tempo eu contrui o meu castelo de amor; um castelo branco onde só cabiam nós dois e apesar de antes você jamais desconfiar que era o real motivo desta construção.
Eu fui muito longe e você nem percebeu e se percebeu, não traduzia para mim a tempo.
Os meus sonhos escolheram um final perfeito e você jamais desconfiou que meus sonhos eram você. Pode ser que meus sonhos fossem meros sonhos, mas eles de certa forma se realizaram, pois quando eu olhei pra você e houve retorno de olhar, para mim já era o bastante.
Pelo coração, com muita dor, eu virei cada pedra, apenas para descobrir que eu encontrei o que sempre procurei descobrir; e quando já podia parar de sonhar, descobri também que o que sempre procurei já não podia mais ser meu.
Apesar das probabilidades dizerem que o improvável era de fato distante demais, o que sabiam aquelas probabilidades se éramos nós quem as programavam?
Não havia uma química tão forte que nutrisse aquele querer por muitos anos, mas fica outro desejo, que esteja agora amada e feliz e que consiga me dizer um “oi” para que meu coração sinta-se também feliz, por você e por tudo que vivemos um dia.
Carlos Henrique