Parece que foi ontem,
Num janeiro assim parecido com este
(E eu nem tinha esses tantos fevereiros),
Em que vieste à luz de meus dias
E os meus dias tornaram-se melhores desde então.
Teu nome eu já tinha desde muito jovem
Em meu dezesseis anos resolvi dizer:
Quando eu tiver uma filha,
Ela vai se chamar Mariana,
Assim com som de mar
E Maria e Ana e Ana e Maria,
Numa só mulher
Parece que foi ontem
Eu apalpava os teus ossos
Dos dedos da mão e dos pés
E da cabeça, e pensava
Sozinho comigo a rir de mim:
Um anjo se fez humano hoje
E está aqui a dormir neste berço
Debaixo da paz de meu olhar...
Um ano depois começou a andar
(Era na areia de uma praia)
E tinha que ser diante do mar
E depois começou a falar
O nome de todas as coisas
O nome das cores, até o lilás
Depois começou a dançar
E flutuava no ar num sorriso
Eu fechava os olhos com medo
De meu anjo cair de tão baixo
Depois começou a crescer
(E eu testemunhei quando brincou
Com boneca pela última vez...)
E fez com uma guitarra o que eu
O que eu nunca iria fazer...
Tinha música nos ouvidos
Nos pés, nos olhos, na alma
Tinha arte por toda parte
Na sina e no desejo
No lampejo...
Depois começou a existir
Como existem todos os seres
E a se perguntar sobre existir
A mim que não tenho as respostas
Mas sempre tento uma...
Existir é existencial, minha filha...
Ah! Existir é. Não é, deve ser, será?
Vai ter um pai filósofo e poeta, será?
Que faz pouco caso das respostas
Porque lhe interessam mais as perguntas...
Existimos...
A pedra existe, a árvore, o mar existe
Existe a coruja, o leopardo, a ameba...
Mas só nós sabemos que existimos
Mesmo quando não sabemos o que existe
E muito menos o que é existir, se existe!
E eu até que existo mais porque esqueço
Do que porque penso (Desculpe, Descartes!)
E escondo de todos um grande segredo:
Eu não sei o que vou ser quando crescer...
Mas olha lá que tenho meus lampejos
Que me vem quase que sem querer
Eu acho, minha filha, que existir é nada
Existir é muito menos do que viver
Qualquer um existe
Qualquer coisa existe
A pedra, o sapo, o buraco na montanha
Só nós é que vivemos (e sabemos!)
E viver é muito mais do que existir
Vivemos o que existe
O que nem existe ainda
E tudo o que ainda vai existir
(E só sei que existe o Amor,
que mais que existir,
nos faz viver...)
(Em 10/01/2011, às 17:34)
(A Mariana, em seu 23º aniversário)
A foto: By Marcos Lizardo (as duas)
Num janeiro assim parecido com este
(E eu nem tinha esses tantos fevereiros),
Em que vieste à luz de meus dias
E os meus dias tornaram-se melhores desde então.
Teu nome eu já tinha desde muito jovem
Em meu dezesseis anos resolvi dizer:
Quando eu tiver uma filha,
Ela vai se chamar Mariana,
Assim com som de mar
E Maria e Ana e Ana e Maria,
Numa só mulher
Parece que foi ontem
Eu apalpava os teus ossos
Dos dedos da mão e dos pés
E da cabeça, e pensava
Sozinho comigo a rir de mim:
Um anjo se fez humano hoje
E está aqui a dormir neste berço
Debaixo da paz de meu olhar...
Um ano depois começou a andar
(Era na areia de uma praia)
E tinha que ser diante do mar
E depois começou a falar
O nome de todas as coisas
O nome das cores, até o lilás
Depois começou a dançar
E flutuava no ar num sorriso
Eu fechava os olhos com medo
De meu anjo cair de tão baixo
Depois começou a crescer
(E eu testemunhei quando brincou
Com boneca pela última vez...)
E fez com uma guitarra o que eu
O que eu nunca iria fazer...
Tinha música nos ouvidos
Nos pés, nos olhos, na alma
Tinha arte por toda parte
Na sina e no desejo
No lampejo...
Depois começou a existir
Como existem todos os seres
E a se perguntar sobre existir
A mim que não tenho as respostas
Mas sempre tento uma...
Existir é existencial, minha filha...
Ah! Existir é. Não é, deve ser, será?
Vai ter um pai filósofo e poeta, será?
Que faz pouco caso das respostas
Porque lhe interessam mais as perguntas...
Existimos...
A pedra existe, a árvore, o mar existe
Existe a coruja, o leopardo, a ameba...
Mas só nós sabemos que existimos
Mesmo quando não sabemos o que existe
E muito menos o que é existir, se existe!
E eu até que existo mais porque esqueço
Do que porque penso (Desculpe, Descartes!)
E escondo de todos um grande segredo:
Eu não sei o que vou ser quando crescer...
Mas olha lá que tenho meus lampejos
Que me vem quase que sem querer
Eu acho, minha filha, que existir é nada
Existir é muito menos do que viver
Qualquer um existe
Qualquer coisa existe
A pedra, o sapo, o buraco na montanha
Só nós é que vivemos (e sabemos!)
E viver é muito mais do que existir
Vivemos o que existe
O que nem existe ainda
E tudo o que ainda vai existir
(E só sei que existe o Amor,
que mais que existir,
nos faz viver...)
(Em 10/01/2011, às 17:34)
(A Mariana, em seu 23º aniversário)
A foto: By Marcos Lizardo (as duas)