A Garota de estranho olhar
Observado a uma pequena distância
Por um olhar que parecia conter o Mundo.
É o olhar de uma garota magrela,
Cujo corpo oculta a idade que tem.
Por que ela me olha assim,
Se é mais miserável que eu?
Estranho olhar...
Num momento,
Parece que vai transbordar.
Agarrada a uma boneca de pano
Em estado deplorável, tal qual sua dona...
Pele e osso; depenada e esfarrapada.
Garota cujo olhar incomoda
Perfura, trás à tona:
Toda dor recolhida.
Toda incerteza vivida.
Todo sonho em pedaços.
Tudo num leito... Sua vida.
Ela vai morrer... Percebe-se.
Queria não presenciar isso.
Incomoda, fere, imola.
Não posso dar-lhe alívio.
Ela nada pede, apenas olha.
Padece, pois é marcada.
É filha dos mil dias...
A AIDS lhe desfruta e devora;
Ela é vítima da desgraça silenciosa.
03/01/2011
Minha homenagem aos filhos que nascem contaminados pelo vírus da AIDS. Na África são rotulados de ‘os filhos dos mil dias’. Por não receberem assistência necessária vivem em média, mil dias. Apenas mil dias. São vítimas porque não tiveram escolha. Inicio o Ano chorando por eles.