PAI, TE ESCREVO
Ao meu inesquecível pai
Pai, te escrevo agora – quando velamos tua última imagem – porque não sei onde colocar minha dor.
O antigo terno, enorme, em que meteram teu corpo agora franzino, me traz a lembrança de um pai forte e amigo, duro muitas vezes na luta para preservar a dignidade.
E a gente, pai, que sempre conviveu com a tua disciplina, como poderia escapar do teu exemplo?
Vejo-te, neste instante, sair da foto antiga da sala, ainda menino, e imagino tua infância indomável, a preparar pescarias e caçadas, ou mesmo outras brincadeiras de menino antigo, que hoje nem sequer conhecemos. Só então me dou conta de que não te conheci o suficiente, que nunca pude entrar na intimidade desse menino que teria me ensinado coisas surpreendentes, talvez até essa liberdade que perdemos a cada dia mais, soterrada nos formalismos da vida.
Queria te dizer tantas coisas – todas as que nunca disse durante o tempo em que permaneceste talvez à espera delas.
De ti herdo pouco: o hábito de ler e de caminhar, a estranheza diante da mentira e da falsidade e o temor de vento encanado.
Fico tranquilo, pois sei que, mesmo sem desistir da vida, não temias a presença negra da morte, e creio mesmo que a recebeste com o teu bom humor, ao que ela retribuiu sendo rápida e educada. Mesmo assim, não vou me acostumar, pai: na última hora, no último adeus, acho que não vou saber nem onde colocar as mãos.
Por isso te escrevo, tentando recuperar um pouco de ti, muito pouco diante da enormidade de tua alma, mal instalada no anonimato caseiro que tanto apreciavas.
Te escrevo coisas simples, incompletas, talvez confusas; mas, pai, que dor em cada palavra!
Ao meu inesquecível pai
Pai, te escrevo agora – quando velamos tua última imagem – porque não sei onde colocar minha dor.
O antigo terno, enorme, em que meteram teu corpo agora franzino, me traz a lembrança de um pai forte e amigo, duro muitas vezes na luta para preservar a dignidade.
E a gente, pai, que sempre conviveu com a tua disciplina, como poderia escapar do teu exemplo?
Vejo-te, neste instante, sair da foto antiga da sala, ainda menino, e imagino tua infância indomável, a preparar pescarias e caçadas, ou mesmo outras brincadeiras de menino antigo, que hoje nem sequer conhecemos. Só então me dou conta de que não te conheci o suficiente, que nunca pude entrar na intimidade desse menino que teria me ensinado coisas surpreendentes, talvez até essa liberdade que perdemos a cada dia mais, soterrada nos formalismos da vida.
Queria te dizer tantas coisas – todas as que nunca disse durante o tempo em que permaneceste talvez à espera delas.
De ti herdo pouco: o hábito de ler e de caminhar, a estranheza diante da mentira e da falsidade e o temor de vento encanado.
Fico tranquilo, pois sei que, mesmo sem desistir da vida, não temias a presença negra da morte, e creio mesmo que a recebeste com o teu bom humor, ao que ela retribuiu sendo rápida e educada. Mesmo assim, não vou me acostumar, pai: na última hora, no último adeus, acho que não vou saber nem onde colocar as mãos.
Por isso te escrevo, tentando recuperar um pouco de ti, muito pouco diante da enormidade de tua alma, mal instalada no anonimato caseiro que tanto apreciavas.
Te escrevo coisas simples, incompletas, talvez confusas; mas, pai, que dor em cada palavra!