A uma mulher de 40
E o que fazes, mulher, no alto destes mais de quarenta degraus?
Que fazes aí nesta altura toda, se os pés de tua alma mal alcançam o patamar vigésimo?
Por que deixas que teu espírito se torne apressado, atingindo atabalhoadamente altura tão indesejável?
Por que te deixas levar tão depressa rumo ao completar deste ciclo, se tanta coisa bela ficou sem que tu te deleitasses?
Não olhaste muito das cores. Não inalaste bons perfumes. Não degustaste de divinos sabores... Não ouviste belas músicas, ainda.
Tens tanto a perceber. Tens tanto ao que te doares e de onde te resgatares!
Veja à tua volta... veja o que a Natureza universal e a Natureza tua têm de belo e tão pouco percebido.
Precede-te a ti mesma nesta sanha de seres mulher madura que nunca deixa de sonhar, pois quem sonha se perde e se desvive.
E sonhar é tão bom. Sonhar é fabricar esperanças. Sonhar é compilar ânimos para prosseguir.
Olha-te nos olhos e sintas o quanto és bela, contrariando o desenrolar natural dos anos.
Veja tua face... veja tuas mãos perfeitas...veja que tua pele está um pouco mais alquebrada e sem lisura, mas que nem por isto deixa de dar o calor na medida exata para quem busca amor e paz... veja teu seio -menos imponente é verdade!- que ainda conserva a maciez maior do sentido de vida. Veja tua boca ridente e cheia de mistérios a serem revelados... veja a maçã do teu rosto ainda capaz de corar ante um elogio... veja novamente teus olhos cintilando um brilho que é só teu.
Deixa pra lá esta coisa de convencionar padrões de beleza, pois se o corpo declina a alma cada vez mais pode se polir e se tornar espelho de amor.
Que faz o teu vigor espiritual se arrefecer que não venha de ti mesma?
Então, se tu propicias o ácido que tenta corroer tua essência, tu também és capaz de providenciar a imunidade.
Agora, olha pra mim! Olha-me de forma tal que enxergues meu coração e verás que dentro dele ainda se conservam os mesmos sentimentos que um dia nos fizeram sonhar juntos, caminhar juntos, construir o pouco juntos.
Olha pra mim! Convença-me de que nada valeu a pena em tua vida. Aí eu me deixarei definhar aos poucos, libertando-me desta minha essência romântica que teimo em querer nominar de AMOR.