MEU TIPO INESQUECÍVEL

Os mais antigos se lembram, havia uma revista (aliás, ainda existe) nos anos 50, 60, muito famosa, chamada “Seleções” do Reader’s Digest, criada no ano de 1922 nos Estados Unidos e presente no Brasil desde 1942, trazida por Robert Lund. O escopo da publicação era “educar e estimular a leitura, produzindo matérias leves e informativas". Destacava-se a seção “Enriqueça o seu Vocabulário”, trazendo sempre curiosidades e testes interessantes sobre a língua vernácula. Um dos seus objetivos na América do Sul foi difundir a literatura norte-americana. Uma de suas seções, “Piadas de Caserna”, era a mais lida pela mídia.

Meu saudoso pai, Constantino Rêgo, era fã dessa revistinha e sempre a comprava. Nós, os filhos mais velhos, sempre a líamos depois dele. Eu, particularmente, me deliciava com suas matérias, mormente uma cognominada de “Meu Tipo Inesquecível”, a qual girava em torno de um personagem popular qualquer, em algum lugar de algum país, cujo cidadão tinha lá as suas excentricidades e por isso marcava de forma indelével a sua passagem pela comunidade.

O meu pai, ao menos para mim, sempre foi o “Meu Tipo Inesquecível” e já escrevi algumas páginas sobre ele aqui no “Recanto”. Homem alegre, forte, trabalhador, pai de família com prole numerosa, bom marido, amigo dos amigos, colaborador e prestativo, “Seu” Constantino estaria hoje com 98 anos de idade (completados, se vivo fosse, em novembro passado).

Saiu de Januária, da beira do Rio São Francisco (era um “barranqueiro”), aos 9 anos e foi levado para o Instituto João Pinheiro de Belo Horizonte, na Gameleira, onde fez o curso primário, estudou música (escrevia, compunha e executava clarineta e saxofone) e jogava futebol, isso até os 18 anos, quando foi para Pirapora trabalhar como aprendiz de alfaiate na oficina do seu tio José Augusto. Mas o futebol falou mais alto, ele foi notado e convidado a trabalhar na Cia. Fiação e Tecidos Cedro e Cachoeira e a jogar bola no Cedro Esporte Clube, equipe operária da fábrica, no interior mineiro próximo a Sete Lagoas, onde se deu bem no trabalho, no futebol e ainda como músico, passando a tocar na banda local, a Euterpe Santa Luzia e também no Coro da Igreja de Santo Antonio, lugar freqüentado pela minha futura mãe, a morena Flaviana, soprano do coral.

Namoraram, noivaram e se casaram dentro de poucos anos, sendo que tempos depois meu pai mudou-se de mala e cuia para Belo Horizonte, onde ingressou na Cia. Renascença Industrial, jogando bola no Esporte Clube Renascença e tocando saxofone em algumas grandes orquestras da capital, na época, como a do Brini, do Castilho e do Delê. Com uma dessas orquestras ele se apresentou no Cassino da Pampulha, num baile de gala onde alguns “pés-de-valsa” do mundo empresarial e político mineiro dançaram, inclusive o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, na época Prefeito de Bêagá.

O “meu tipo inesquecível” era comunicativo, bom contador de “causos”, de histórias do seu tempo de criança às margens do Rio São Francisco, onde nadava, pescava e comia muito surubim, ao lado dos seus pequenos amigos. Gostava de escrever quadrinhas, pensamentos, acrósticos (como o dedicado à minha mãe, Flaviana, pequena obra prima postada aqui no RDL), compunha, tocava valsas, chorinhos e exalava alegria por todos os poros.

Por tudo isso e muito mais, principalmente pelo seu exemplo de vida que nos legou, a nós seus dez filhos (sete homens e três mulheres), o “Seu” Constantino Rêgo foi e será sempre o “Meu Tipo Inesquecível” ! ...

B.Hte., 28/12/10 -o-o-o-o-o-

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 28/12/2010
Reeditado em 17/08/2016
Código do texto: T2696501
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