NOIVADO E CASAMENTO DE UM PAU DE ARARA

(Paródia de "Meu Navio Anda no Mar", de autor

Desconhecido. Narra a história do namoro de meu

amigo Carlos Alberto Parente Pacheco até seu

casamento e lua de mel. As expressões aspeadas

Faziam parte de seu linguajar habitual).

I

Vou contar uma história (deixa contar)

Que faz muito bem lembrar (deixa contar)

De um rapaz interessante (deixa contar)

Que resolveu se casar. (Meu navio anda no mar...

II

Já passou dos 30 anos (deixa passar)

Seu nome: Carlos Alberto (deixa passar)

Sabe que São Paulo é longe (deixa passar)

Mas pensa que o céu é perto. Meu navio anda no mar...

III

Tratou de cair em campo (deixa cair)

Mesmo sem ser pioneiro (deixa cair)

Conheceu a Vera Lúcia (deixa cair)

E gostou dela primeiro. Meu navio anda no mar...

IV

Se amarrou no charme dela (deixa amarrar)

No seu jeito feminino (deixa amarrar)

Seus cabelos escorridos (deixa amarrar)

Indicavam seu destino. Meu navio anda no mar...

V

Tinha a risada gozada (deixa sorrir)

Ela era cheia de graça (deixa sorrir)

Tratou logo de ficar (deixa sorrir)

Por dentro da situaça. Meu navio anda no mar...

VI

Foi logo dando cantadas (deixa cantar)

Bem seguras nessa miss (deixa cantar)

Decorou, pra ter sucesso, (deixa cantar)

Umas palavras difíceis: Meu navio anda no mar...

VII

“Me chamo Carlos Alberto (deixa chamar)

Venho lá de Pernambuco (deixa chamar)

Não sou doido, “todavia” (deixa chamar)

Eu por ti fiquei maluco. Meu navio anda no mar...

VIII

Fiquei muito “estupefato” (deixa ficar)

Com teu riso "hilariante" (deixa ficar)

E teu nome, Piotronovsky (deixa ficar)

É "deveras" "relevante". Meu navio anda no mar...

IX

Mas, “vale salientar” (deixa valer)

Que entre minha e tua idade (deixa valer)

E entre o meu e o teu “design” (deixa valer)

Há “compatibilidade”. Meu navio anda no mar...

X

Te digo, “por outro lado" (deixa dizer)

Te gostei, “de sorte que” (deixa dizer)

Minha sorte é te ganhar (deixa dizer)

Meu azar é te perder. Meu navio anda no mar...

XI

Bem, “é digno de nota” (deixa notar)

Que és o fim desta viagem (deixa notar)

Mas não diga nada ainda (deixa notar)

Pois eu “digo de passagem”: Meu navio anda no mar...

XII

“Haja vista” que és mulher (deixa haver)

Tão cheia de “predicados” (deixa haver)

Conclusão “inexorável”: (deixa haver)

Quero ser teu namorado”. Meu navio anda no mar...

XIII

A irmã nada entendeu (deixa entender)

De seu verbo reluzente (deixa entender)

Mas achou que se tratava (deixa entender)

De um rapaz até decente. Meu navio anda no mar...

XIV

Se tratava de Engenheiro (deixa tratar)

Da mais alta competência (deixa tratar)

Rejeitá-lo, simplesmente (deixa tratar)

Era um gesto de demência. Meu navio anda no mar...

XV

Homem intelectual (deixa tratar)

É um Físico também (deixa tratar)

Varão desses, na Verdade, (deixa tratar)

Se encontra só um em cem. Meu navio anda no mar...

XVI

“Esse seu preciosismo (deixa ele assim)

- disse Vera – é secundário (deixa ele assim)

Eu resolvo simplesmente (deixa ele assim)

Com um bom dicionário”. Meu navio anda no mar...

XVII

Mas, havia um probleminha (deixa haver)

Naquele homem ideal (deixa haver)

Por que ele inda não era (deixa haver)

Servo ministerial? Meu navio anda no mar...

XVIII

Se você quiser saber (deixa querer)

O final desse romance (deixa querer)

Aguarde só dez minutos (deixa querer)

Pra ver os melhores lances. Meu navio anda no mar...

XIX

Mas, voltando à nossa história (deixa voltar)

Apesar da restrição (deixa voltar)

A lábia do nosso herói (deixa voltar)

Derruba até avião. Meu navio anda no mar...

XX

Pois, esse cabra da peste (deixa ele ser)

Gaiolou seu assum-preto (deixa ele ser)

Conquistou seu coração, (deixa ele ser)

Bagunçando o seu coreto. Meu navio anda no mar...

XXI

Ouvindo Richard Clayderman (deixa ouvir)

Os dois, lá na casa dela, (deixa ouvir)

Foram, então, se aprochegando (deixa ouvir)

Depois do jantar à vela. Meu navio anda no mar...

XXII

Ele exclamou: “Vera Lúcia (deixa exclamar)

Piotonovsky Parente!" (deixa exclamar)

Ela retrucou: “Chu Chu!” (deixa exclamar)

A cena foi comovente. Meu navio anda no mar...

XXIII

Ficaram manjando os dois (deixa manjar)

Clá, Serginho, Paulo e Cris (deixa manjar)

Mais a pré-futura sogra (deixa manjar)

Abrindo parêntesis. Meu navio anda no mar...

XXIV

Cristina e Verinha bailam (deixa bailar)

As duas um pas-de-deux (deixa bailar)

Bailam com Carlos Alberto, (deixa bailar)

Quem te viu e quem te vê! Meu navio anda no mar...

XXV

Mas, sei que o balé mais clássico (deixa saber)

Foi, na opinião da galera, (deixa saber)

Ver Vera e Carlos Alberto (deixa saber)

Juntos no Ibirapuera: Meu navio anda no mar...

XXVI

- Acho muito “abominável” (deixa ele achar)

O frio cá de São Paulo (deixa ele achar)

Mas esses teus braços quentes (deixa ele achar)

Poderão “erradicá-lo” . Meu navio anda no mar...

XXVII

Desde esse tempo, não come (deixa comer)

Só faz é telefonar (deixa comer)

Pra escutar o hino de nome: (deixa comer)

“Chu pra lá e Chu pra cá”. Meu navio anda no mar...

XXVIII

Mas, esse namoro foi (deixa ele ser)

Um projeto "faraônico": (deixa ele ser)

- Quebro esse “famigerado” (deixa ele ser)

Aparelho telefônico! Meu navio anda no mar...

XXIX

Não vai mais a restaurante (deixa não ir)

Precisa economizar; (deixa não ir)

Quando vem “a dolorosa” (deixa não ir)

Diz que não pode pagar. Meu navio anda no mar...

XXX

Nem pra tirar a barriga (deixa tirar)

Quer jogar bola na quadra (deixa tirar)

Prefere poupar seu corpo (deixa tirar)

Pra jogar outra pelada. Meu navio anda no mar...

XXXI

Foi no Planalto Paulista (deixa casar)

No estilo bem europeu (deixa casar)

Lá na Avenida Itacira (deixa casar)

Que o casório aconteceu. Meu navio anda no mar...

XXXII

Catardo fez o discurso (deixa fazer)

E Carole, a oração (deixa fazer)

Clá chorou dois temporais (deixa fazer)

De lágrimas de emoção. Meu navio anda no mar...

XXXIII

Muitos lhe telefonaram (deixa fonar)

Até mesmo alguns disseram: (deixa fonar)

Por aí, bem poucos foram, (deixa fonar)

Por aqui, muitos vieram”. Meu navio anda no mar...

XXXIV

Quem testemunhou pasmadas (deixa pasmar)

A sua lua-de-mel (deixa pasmar)

Foram as quatro paredes (deixa pasmar)

Lá do Sharaton Hotel. Meu navio anda no mar...

XXXV

Mil vezes nela escalou (deixa subir)

Nunca se viu nada igual (deixa subir)

Inda bem que terminou (deixa subir)

Seu jejum sexual. Meu navio anda no mar...

XXXVI

Por guardar por tantos anos (deixa guardar)

Seus anseios afetivos (deixa guardar)

Em sua lua-de-mel (deixa guardar)

Não ficou morto nem vivo. Meu navio anda no mar...

XXXVII

As praias lá de Ubatuba (deixa espraiar)

Não sabem detalhes não (deixa espraiar)

Quem guarda muitos segredos (deixa espraiar)

São os Campos do Jordão. Meu navio anda no mar...

XXXVIII

Penso enfim que essa fidalga (deixa pensar)

De inteligência tão rara (deixa pensar)

Vai saber polir com zelo (deixa pensar)

A lenha de um pau-de-arara. Meu navio anda no mar...

XXXIX

Vera, aceite este conselho: (deixa aceitar)

Dê-lhe até tapa na cara (deixa aceitar)

Mas, não o chame de Pacheco (deixa aceitar) Pois, Pois ele vira uma arara. Meu navio anda no mar...

XL

Agora, que já casaram (deixa casar)

Não liguem para o estribilho (deixa casar)

Das pessoas que chegarem (deixa casar)

Cobrando o primeiro filho. Meu navio anda no mar...

XLI

Saudemos, almas presentes, (deixa saudar)

Saudemos, presentes almas, (deixa saudar)

Esses dois recém-casados (deixa saudar)

Com uma salva de palmas! Meu navio anda no mar...

Lúcio Gama
Enviado por Lúcio Gama em 12/12/2010
Reeditado em 29/04/2012
Código do texto: T2667627
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