sobre os trinta anos de morte de john Lennon
Neste dia 08 de dezembro de 2010, lembramos os 30 anos do trágico assassinato de John W Lennon, o mais complexo dentre os ex-beatles, ou pelo menos aquele que mais se rebelou contra o peso da herança da antiga banda e procurou trilhar um caminho inteiramente novo pondo em xeque muitas vezes sua própria reputação.
Lennon, ainda é, de muitas maneiras, um enigma para os fãns, uma imagem inacabada de si mesmo, condicionada a dualidade entre um homem frágil e inseguro, marcado por traumas e ressentimentos, e a personalidade marcante e liderança nata que personificara como artista e pessoa pública respaldado por um talento incomum.
O Lennon pós Beatles, apresentou-se ao longo dos anos 70 como uma das figuras mais emblemáticas do cenário de desconstrução cultural dos anos 60 nos novos tempos pós guerra do Vietnã, em que os sonhos generosos da cultura da paz e do amor davam gradativamente lugar a um profundo niilismo. O primeiro disco solo de Lennon John Lennon Plastic Ono Band, lançado em 1970, já expressava esta nova tendencia ao na musica “God”, por exemplo, sentenciar o fim do sonho e sua descrença em seus antigos referenciais. Suas composições Pós Beatles também se distanciam do nonsense e assumem um tão intimista e pessoal em colagens bem construidas de imagens que expressam uma auto afirmação do singular, do momento que aos poucos se revelaria como uma filosofia para os novos tempos. Ou seja, viver apenas para o presente...
Esta ênfase no agora em detrimento de uma constância quanto a opiniões e valores é o que mais nos aproxima de Lennon. Afinal, o interromper-se prematuro de sua arte e de seu pensamento nos impede de vislumbra-lo como uma imagem cristalizada de passado, mas como a referência de um individuo que buscou de todas as maneiras viver a si mesmo até as últimas consequencias e e nos oferece tal experiência como um exemplo.
Lembrando sua polêmica declaração em uma entrevista concedida em 1964:
"O Cristianismo vai desaparecer. Vai diminuir e encolher. (...) Nós, Beatles, somos mais populares do que Jesus neste momento. Não sei qual vai desaparecer primeiro - o rock and roll ou o Cristianismo. Cristo não era mau, mas os seus discípulos eram obtusos e vulgares. É a distorção deles, que estraga o Cristianismo para mim."
Diria de modo bastante provocativo, em tempos de neo fundamentalismo, que a imagem e mito de John Lennon é mais importante para o individuo secularizado e concreto da realidade contemporânea do que o mito de Jesus Cristo... Afinal, tudo que aprendemos com ele é a ser quem somos sem o peso de dualismos do tipo céu e inferno, bem e mal, no palco do pragmatismo do agora...