Herbert Jose de Souza

Herbert Jose de Souza “Eu nasci para o desastre, porém com sorte" - costumava dizer Betinho

Mineiro este Senhor bacharelado em Sociologia.

Durante o governo de João Goulart assessorou o MEC,.Defendeu as Reformas de base, sobretudo a reforma agrária.FUNDOU A AP – AÇÃO POPULAR da qual foi o primeiro coordenador.O IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Betinho também integrou as forças que resultaram no impeachment do Fernando Collor. Mas o projeto pelo qual se imortalizou foi, provavelmente, a AÇÃO CIDADANIA CONTRA FOME, A MISÉRIA E PELA VIDA.Movimento em favor dos pobres e excluídos. A partir da participação de Betinho, o problema da fome e da miséria tornou-se visível e concreto para todos os brasileiros.

Penso como estaria ele a ver essa pizzaria que se transformou o governo Lula...Seus pensamentos batem em nossas faces até hoje. Ele tentou, alguns de nós (digo nós e incluo-me) omitem-se.

Mostrou sua cara e voz e hoje com devidos méritos , um reconhecimento em sua passagem por essa vida terrena. Meu singelo e de muitos outros célebres ou apenas humanos, mortais.

“A ALMA DA FOME É A POLÍTICA”

Ele dizia... Continua a ser e pergunto :

- Até quando o será?!

Em 1986 Betinho descobriu ter contraído o vírus da AIDS em uma das transfusões de sangue. Betinho perdeu dois irmãos vítimas da Aids. A maneira de lidar com a doença foi falar sobre ela.

Fundou e presidiu até a sua morte a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS. Dois dos seus irmãos, Henfil era o humorista e o cartunista que buscávamos sempre no Pasquim e Chico Mário músico, morreram em 1988 por conseqüência da mesma doença. Mesmo assim, não desistiu da vida até o fim...Dizia a doeça que o fragilizava fisicamente o forçava a “COMEMORAR A VIDA TODAS AS MANHÃS".

Nos deixou em 1997 bastante fagilizado e não se deixando calar...

Imortaliou-se da maneira mais sublime em gestos , atos e atitudes.

Soltou aos sete ventos “A voz da razão”.

O filme Três Irmãos de Sangue, sobre a vida dos irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário foi lançado em 2006. Convido a todos a assistir e ver a Biografia de um Brasileiro como nós de quem devemos nos orgulhar de fato.

Sem nunca esquecer as causas sociais, trabalhou duro a favor do irmão, sem laços sanguínios. Em 1993, foi considerado "homem de ideias do ano", pelo Jornal do Brasil.

Depois de muito lutar contra a doença, Betinho faleceu em 1997, aos 61 anos, em sua casa, no bairro do Botafogo.

FRASES PARA REFLEXÃO:

•A Globo informa o que quer e como quer, desde que isso não vá contra o pensamento oficial. Se existe um poder soberano neste país, ele é a Rede Globo de Televisão. E o mais importante é que ela exerce esse poder graças ao Governo Federal, e sem ter sido eleita por pessoa alguma. Só em uma ditadura poderia existir semelhante poder sem controle social.

• A tecnologia moderna é capaz de realizar a produção sem emprego. O diabo é que a economia moderna não consegue inventar o consumo sem salário.

• Democracia serve para todos ou não serve para nada

•O desenvolvimento humano só existirá se a sociedade civil afirmar cinco pontos fundamentais: igualdade, diversidade, participação, solidariedade e liberdade.

•Não podemos aceitar a teoria de que se o pé é grande e o sapato, pequeno, devemos cortar o pé. Temos de trocar de sapato.

•É importante ver, com os dois olhos, os dois lados para mudar uma única realidade, a que temos.

• É um absurdo um país com tanta terra ociosa assistir sua população vegetar na periferia das grandes cidades.

UM PAÍS NÃO MUDA PELA SUA ECONOMIA, SUA POLÍTICA E NEM SUA CIÊNCIA ;MUDA SIM PELA SUA CULTURA...

...E mais de 1,3 milhões de eleitores consagram Tiririca a deputado do PR...

Fico por aqui a cantar...

...MEU BRASIL / QUE SONHA COM A VOLTA DO IRMÃO DO HENFIL / COM TANTA GENTE QUE PARTIU ...CHORA A NOSSA PÁTRIA MÃE GENTIL...

Com carinho e dedicação ao Meu pai e sobrinhos Hemofílicos.

DOEM SANGUE!!!

Crissol

Carta para Maria, que reproduzo a seguir, fala do homem que ele era. Homens assim fazem falta ao país. Fazem falta a cada um de nós. Deixam-nos carentes do exemplo pessoal, que efetivamente nos educa e nos faz querer ser melhores. Não deixe de ler.

Este texto é para Maria ler depois da minha morte que, segundo meus cálculos, não deve demorar muito. É uma declaração de amor.

Não tenho pressa em morrer, assim como não tenho pressa em terminar esta carta. Vou voltar a ela quantas vezes puder e trabalhar com carinho e cuidado cada palavra. Uma carta para Maria tem que ter todos os cuidados. Não quero triste, quero fazer dela também um pedaço de vida pela via de lembrança que é a nossa eternidade.

Nos conhecemos nas reuniões de AP (Ação Popular), em 1970, em pleno Maoísmo. Havia uma clima de sectarismo e medo nada propício para o amor.

Antes de me aventurar andei fazendo umas sondagens e os sinais eram animadores, apesar de misteriosos. Mas tínhamos que começar o namoro de alguma forma. Foi no ônibus da Vila das Belezas, em São Paulo. Saímos em direção ao fim da linha como quem busca um começo. E aí veio o primeiro beijo, sem jeito, espremido, mas gostoso, um beijo público. A barreira da distância estava rompida para dar começo a uma relação que já completou 26 anos!

O Maoísmo estava na China, nosso amor na São João. Era muito mais forte que qualquer ideologia. Era a vida em nós, tão sacrificada na clandestinidade sem sentido e sem futuro. Fomos viver em um quarto e cozinha, minúsculos, nos fundos de uma casa pobre, perto da Igreja da Penha. No lugar cabia nossa cama, uma mesinha, coisas de cozinha e nada mais. Mas como fizemos amor naquele tempo! Foi incrível e seguramente nunca tivemos tanto prazer.

Tempos de chumbo, de medo, de susto e insegurança. Medo de dia, amor de noite. Assim vivemos por quase um ano. Até que tudo começou a “cair”. Prisões, torturas, polícia por toda a parte, o inferno na nossa frente. Fomos para o Chile. E ali, chamado por Garcez para elaborar textos, acabei no agrado de Allende, que os usou em seus discursos oficiais. Foi a primeira vez que eu vi amor virar discurso politico…

Depois passamos por muita coisa até voltar. Até que a anistia chegou e nos surpreendeu. E agora, o que fazer com o Brasil?

Foi um turbilhão de emoções: o sonho virou realidade! Era verdade, o Brasil era nosso de novo. A primeira coisa foi comer tudo que não havíamos comido no exílio: angu! com galinha ao molho pardo, quiabo com carne moída, chuchu com maxixe, abóbora, cozido, feijoada. Um festival de saudades culinárias, um reencontro com o Brasil pela boca.

Uma das maiores emoções da minha vida foi ver o Henrique surgindo de dentro de você. Emoção sem fim e sem limite que me fez reencontrar a infância.

Depois do exílio, nossas vidas pareciam bem normais. Trabalhávamos; viajávamos nas férias, visitávamos os amigos, o Ibase funcionava, até a hemofilia parecia que havia dado uma trégua. Henrique crescia, Daniel aos poucos se reaproximava de mim, já como filho e amigo.

Mas como uma tragédia que vem às cegas e entra pelas nossas vidas, estávamos diante do que nunca esperei. A Aids. Em 1985, surge a notícia da epidemia que atingia homossexuais, drogados e hemofílicos. O pânico foi geral. Eu, é claro, havia entrado nessa. Não bastava ter nascido mineiro, católico, hemofílico, maoísta e meio deficiente físico.

Era necessário entrar na onda mundial, na praga do século, mortal, definitiva, sem cura, sem futuro e fatal. E foi aí que você, mais do que nunca, revelou que é capaz de superar a tragédia, sofrendo, mas enfrentando tudo e com um grande carinho e cuidado. A Aids selou um amor mais forte e mais definitivo porque desafia tudo, o medo, a tentação do desespero, o desânimo diante do futuro. Continuar tudo apesar de tudo, o beijo, o carinho e a sensualidade.

Assumi publicamente minha condição de soropositivo e você me acompanhou. Nunca pôs um “senão” ou um comentário sobre cuidados necessários. Deu a mão e seguiu junto como se fosse metade de mim, inseparável. E foi. Desde os tempos do cólera, da não esperança, da morte do Henfil e Chico, passando pelas crises que beiravam a morte até o coquetel que reabria as esperanças. Tempo curto para descrever, mas uma eternidade para se viver.

Um dos maiores problemas da Aids é o sexo. Ter relações com todos os cuidados ou não ter? Todos os cuidados são suficientes ou não se deve correr riscos com a pessoa amada? Passamos por todas as fases, desde o sexo com uma ou duas camisinhas até sexo nenhum, só carinho. Preferi a segurança total ao mínimo risco.

Parei, paramos e sem dramas, com carências, mas sem dramas, como se fosse normal viver contrariando tudo que aprendemos como homem e mulher, vivendo a sensualidade da música, da boa comida, da literatura, da invenção, dos pequenos prazeres e da paz. Viver é muito mais que fazer sexo. Mas para se viver isso, é necessário que Maria também sinta assim e seja capaz dessa metamorfose como foi.

Para se falar de uma pessoa com total liberdade é necessário que uma esteja morta e eu sei que este será o meu caso. Irei ao meu enterro sem grandes penas e principalmente sem trabalho, carregado. Não tenho curiosidade para saber quando, mas sei que não demora muito.

Quero morrer em paz, na cama, sem dor, com Maria do meu lado e sem muitos amigos, porque a morte não é ocasião para se chorar, mas para celebrar um fim, uma história. Tenho muita pena das pessoas que morrem sozinhas ou mal acompanhadas, é morrer muitas vezes em uma só. Morrer sem o outro é partir sozinho. O olhar do outro é que te faz viver e descansar em paz. O ideal é que pudesse morrer na minha cama e sem dor, tomando um saquê gelado, um bom vinho português ou uma cerveja gelada.Te amo para sempre,

Betinho,

Itatiaia, janeiro de 1997″

Crissol
Enviado por Crissol em 02/12/2010
Reeditado em 02/12/2010
Código do texto: T2648951